Artigos – Ano 2013: Sucena Shkrada Resk – Blog Cidadãos do Mundo

ARTIGOS – 2013: SUCENA SHKRADA RESK – BLOG CIDADÃOS DO MUNDO

Mandela: símbolo do ativismo pela dignidade humana, por Sucena Shkrada Resk
08/12/2013 22:32

“Enquanto eu estiver envelhecendo como as montanhas, vou continuar alimentando a esperança de que surgiu um grupo de líderes no meu país, na minha região, no meu continente e no mundo que não vai permitir a negação da liberdade. Que ninguém se refugie como nós e que ninguém seja condenado à fome como nós e que ninguém seja despido da dignidade humana como nós”. Esse discurso de Nelson Rolihlahla Mandela – Madiba (1918-2013), na Organização das Nações Unidas (ONU), é tão forte e provocativo, que não pode ser esquecido, pois de certa forma, representa a essência de sua luta por décadas que saltou as fronteiras do apartheid sul-africano (regime de segregação racial liderado por uma minoria branca), instalado desde 1949, e se projetou como uma bandeira pelos princípios dos direitos humanos universalmente.

O despertar para as causas humanitárias começa em sua infância, desde seus primeiros anos no pequeno vilarejo de Qunu e ao crescer quando começou a assimilar as mensagens dos mais velhos sobre as guerras de resistência de seus antepassados. Aquelas histórias ganhavam sentido para aquela criança, que forjava o modelo de concepção de qualidade de vida aos poucos. Mandela também começou desde cedo a lidar com os processos de perda, que o tornaram mais forte frente às adversidades. Seu pai faleceu, quando tinha nove anos, e aí foi adotado pelo líder do povo thembu, Jongintaba Dalindyebo, após ser entregue por sua mãe ao monarca, pois ela não tinha condições de criá-lo.

A criança virou adolescente e adulto, estudou Direito, na década de 50, e estruturou seu conhecimento acadêmico junto ao de cidadão. No início, sua revolta era grande pelo quadro de injustiça instalado em seu país, e acreditava na luta armada, principalmente quando 69 pessoas desarmadas foram mortas, quando se manifestavam em Sharpeville contra as leis de passe, em março de 1960, que obrigava a população negra a portar um cartão que continha os locais onde era permitido circular.
Mandela vivia na clandestinidade e se transformou em cozinheiro, jardineiro e motorista. Como ativista político do Congresso Nacional Africano (CNA) foi condenado em 1964 à prisão perpétua pelo regime do apartheid, acusado de subversivo e de sabotagem ao governo em vigor, ao lado de mais sete acusados.

Durante esse período de detenção, foi privado de tantos outros direitos, como o de ir aos funerais respectivamente de sua mãe e de um de seus filhos, nos anos de 68 e 69. Ao mesmo tempo ficaria afastado por quase três décadas de sua família, durante o período que ficou confinado em três prisões.
Mas os 27 anos de reclusão não o tornaram mais duro, com ódio ou sentimento de vingança. De certa forma esses momentos de privação forjaram nele o perfil que o tornou um grande exemplo à humanidade. Apesar de ter pelo menos três vezes a chance de ser libertado antes do cumprimento desse período, ele não aceitou, enquanto não fosse instituído o fim do regime e de proibição dos direitos do CNA, como também não fossem libertados os outros presos políticos.

No ano de 1990, quando é finalmente libertado, sai com um sorriso no rosto e as mãos levantadas, como um guerreiro que ainda teria muito a fazer. É recepcionado por uma multidão ávida por lutar por novos tempos na África do Sul. Já era um líder nato, que começou a viajar pelo mundo levando sua mensagem, inclusive, no âmbito da ONU, quando se torna o primeiro presidente eleito negro de seu país, em 1994 onde governa até 1999.

“Lutei contra a dominação branca, lutei contra a dominação negra. Eu estimo o ideal de uma sociedade democrática e livre na qual todas as pessoas convivam em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal que espero viver e alcançar. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer”. Essa é mais uma mensagem de Mandela que cala fundo em sua trajetória.

Um homem carismático que conseguiu conquistar o respeito em todo o planeta foi chamado de “tatá” (pai), de “klulu” (grandioso) e principalmente de Madiba, nome do clã a que pertenceu. Cidadãos e cidadãs de todas as gerações hoje o homenageiam com esse sentido de gratidão. Talvez uma região que mais represente o esforço com o qual defendeu seu ideal seja Soweto, onde 99% de sua população é negra e sofreu durante décadas a pressão da segregação racial. Até hoje o ano de 1976 é marcado na história, devido aos resultados violentos, quando estudantes foram atacados por policiais durante manifestação que faziam contra a inferioridade das escolas onde estudavam negros na África do Sul.
Os anos se passaram e depois de ter saído da posição de estadista em 99, Mandela continuou a ser ativista pela igualdade racial no mundo e assumiu mais uma bandeira: de promover a defesa da dignidade e de tratamento a pessoas com AIDS.

“O que conta na vida não é o fato de termos vivido. É o que temos feito de diferença para a vida dos outros que irá determinar o significado da vida que levamos”. Essa filosofia o líder sul-africano levou até o seu último dia de existência aqui na Terra. Já debilitado resistiu nos últimos meses o mais que pôde, após contrair pneumonia e posteriormente uma infecção pulmonar. E o que o tornou um símbolo de cidadão do mundo é que em nenhum momento a sua notoriedade fez perder sua humildade. Ele nunca clamou por ser ‘santo’ mas um homem que tinha um ideal, o qual defendeu até o fim.
Veja também no Blog Cidadãos do Mundo:

08/07/2010 – Mandela: 92 anos de universalidade
Confira abaixo um vídeo com os principais discursos de Mandela na ONU:
*Blog Cidadãos do Mundo – Sucena Shkrada Resk

Eu Maior provoca reflexões sobre nossa relação conosco e com o mundo, por Sucena Shkrada Resk
24/11/2013 19:55
Tratar da razão de nossa existência neste Planeta está longe de ser um assunto trivial e enfadonho. De certa forma, infere nossa relação conosco, com os outros seres vivos, com o mundo e com os cosmos. Remexe, provoca e traz muitos questionamentos que não têm respostas fáceis, mas que são essenciais para continuarmos nossa trajetória, gerando novas perguntas e procuras. Todas essas reflexões foram suscitadas ontem ao assistir o documentário Eu Maior, dirigido por Fernando e por Paulo Schultz, com acesso gratuito no site http://www.eumaior.com.br. Essa produção estreou no último dia 21 e pode ser vista também no Youtube e no cinema. A iniciativa foi possível com a arrecadação por meio de crowdfunding proveniente de 600 patrocinadores (pessoas físicas).

Em praticamente uma hora e meia, vários personagens dos cenários educacional, das letras, das artes, da psicologia, da filosofia, das religiões e do esporte expressam de forma coloquial suas leituras sobre as suas existências e o que entendem por felicidade. O roteiro, por não apelar ao elitismo em sua forma de abordagem, consegue pela espontaneidade das falas atingir o público. Pode-se dizer que favorece uma comunicação sem ruídos.

Não é difícil encontrar sintonia com alguns pensamentos, possibilitando releituras do que é exposto. Em alguns momentos, chega a emocionar pela profundidade, como nos depoimentos do teólogo Leonardo Boff, do escritor Rubem Alves, do músico Marcelo Yuka, do fotógrafo Araquém Alcântara e do educador indígena Kaká Werá.

Alguns depoimentos são carregados de uma estreita relação com o meio ambiente.“A minha matriz criativa e compreensão do mundo surgiram andando pelo agreste, no Cerrado, na Caatinga, na floresta. O que (para mim) é básico é expandir belezas, …provocar, refletir…”, fala em dado momento, Alcântara. Para Werá na natureza é onde encontra o pulsar da energia. “Não exige dinheiro, status, nem oferendas, e nenhuma formação…, só a sintonia…”.

Com a exposição pausada, como é uma característica de Leonardo Boff, ele diz – “O ser humano é um projeto infinito, é um nó de relações…A crise purifica…A dor está a serviço de um complexo mais vasto…”. Em poucas palavras, ele permite que pensemos que viver é um palco de possibilidades que não se esgotam.

E uma lição de vida é dada em uma das frases do músico Marcelo Yuka, que ficou paraplégico em 2000, vítima da violência urbana – “…Ser feliz é não abrir mão do caminho da felicidade…”.
E com seu jeito brejeiro, Alves – “um menino de 80 anos”- deixa claro que para ele sua vida é uma sequência de tentativas o que no fundo traduz o sentido da proposta do documentário. “Cheguei onde cheguei onde tudo que planejei deu errado. Sou escritor por acidente (ri)…Fui pastor, professor de Filosofia…agora sou velho”. E se desdobra em sorrisos, quando fala da motivação que provoca se relacionar com as novas gerações de seus netos.
Enfim, aí segue uma dica que fez valer ficar na Internet em casa em uma tarde chuvosa do sábado e me provocou mais questionamentos sobre o sentido da existência, que será um assunto para futuros posts…

*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk

Quilombolas: raiz, identidade cultural e ancestralidade, por Sucena Shkrada Resk
23/11/2013 16:11
Raiz, palavra poderosa que emerge em qualquer cultura. Traduz ao mesmo tempo, permanência, sobrevivência, ancestralidade, conhecimento e identidade…mas acima de tudo, aprendizado. Nesse limiar em que o tempo é contado em séculos, o universo dos remanescentes quilombolas possibilita uma viagem pela história em que se observa a ligação dessas comunidades com os elementos naturais da Terra e os sociais, que remete à relação antropológica que vivenciamos como seres humanos. Com essa rede de fusões, tecemos a importância dos patrimônios material e imaterial, que fazem valer as lutas pelo respeito a esses povos tradicionais, tendo em vista, que em 2013, o que se vê é uma situação em que os papéis não refletem a realidade dos direitos.

A vulnerabilidade está associada às vertentes ambientais e socioeconômicas. Em estudo divulgado em maio pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, 74,73% das cerca de 80 mil famílias quilombolas registradas no Cadastro Único da base de dados sociais estão em situação de extrema pobreza. Esse dado reporta a uma questão grave, que os mecanismos da gestão pública não conseguiram solucionar.

Hoje a Fundação Palmares, subordinada ao Ministério da Cultura, reconhece 2.408 comunidades remanescentes quilombolas no país enquanto a Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas (CONAQ) fala de um número estimado de cinco mil. Em levantamento anual recente feito pela Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPISP), sobre as titulações quilombolas no país, somente 204 comunidades têm suas terras tituladas em 24 estados (AM, AL, AM, BA, CE, ES, GO, MA, MT, MS, MG, PA, PB, PE, PR, PI, RJ, RN, RS, RO, SC, SP, SE e TO). Três a menos, de acordo com informações divulgadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que também apresenta o registro de 1.264 processos em tramitação.

Independente dos números, o avanço nas últimas décadas quanto a esses procedimentos é visivelmente lento. Segundo a CPISP, de 2003 a 2010, foram formalizadas no âmbito federal, 12 titulações e de 2011 até agora, quatro. Nas esferas estaduais, foram 61.
Essa situação gera uma atmosfera de vulnerabilidade para essas populações, tendo em vista, o contexto de pressões de latifundiários e de empreendimentos de grande porte, de conflitos com legislações ambientais que categorizam algumas tradições de cultivo como infrações, além de outras circunstâncias que afastam algumas comunidades da relação de agricultura familiar para subsistência e de suas manifestações, que vêm de pai para filho.

Alguns casos são mais extremos, como o do Quilombo Rio dos Macacos, em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, na Bahia, em que há um conflito instalado, tendo em vista uma contenda judicial, em que a Marinha se posiciona como proprietária da terra onde os quilombolas vivem.

Em audiência, no mês passado, a União ofereceu 29 hectares do território à comunidade. Mas segundo levantamento antropológico do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), do ano passado, os 800 hectares onde há quatro décadas está instalada a Base Naval de Aratu, já era ocupada por quilombolas há mais de 200 anos. O impasse continua e os quilombolas denunciam que vivenciaram situações de intimidação e ameaças, durante esse processo. O caso tem gerado manifestações de organizações não-governamentais e do Ministério Público, além da Secretaria de Direitos Humanos.
Ao mesmo tempo, existem iniciativas propositivas que reforçam o empoderamento dessas comunidades para sua sobrevivência e para que as novas gerações possam dar continuidade a essas culturas e modo de vida, que com toda certeza, é peculiar e difere do cotidiano urbano e frenético de nossas cidades.

Como exemplo , há o trabalho de Inventário Cultural de Quilombos do Vale do Ribeira produzido pelo Instituto Socioambiental, neste ano. O material é resultado do trabalho de campo, durante três anos, com metodologia participativa da população de 16 quilombos locais. Ao todo foram identificados 180 bens culturais (nas categorias celebrações, formas de Expressão, ofícios e modos de fazer, lugares e edificações).

Entre as informações, há o levantamento de 24 bens, sendo que 13 são passos de dança ou brincadeiras ligados aos bailes de puxirão, evidenciando a importância do trabalho agrícola para manifestações lúdicas e artísticas nos quilombos. Ao mesmo tempo registra 75 bens naturais, como rios, cachoeiras e áreas de plantio antigas e atuais, grutas, pedras e morros, caminhos históricos e atuais e cemitérios. Como também, 29 bens culturais intangíveis, com identificações das igrejas como espaço para a associação entre religião e cultura, o fortalecimento comunitário e a transmissão de conhecimentos.

Diante desses contextos, a realidade dos remanescentes quilombolas no Brasil demonstra que grande parte dessas comunidades enfrenta a cada dia um novo desafio para encontrar alternativas para manter com dignidade a subsistência e suas identidades culturais. Poucas recebem apoio para conseguirem autonomia para geração de renda e conservação da terra e costumes.

E uma das principais bandeiras de luta do CONAQ é que as titulações ocorram, atendendo ao Decreto 4887/2003, que regulamenta o procedimento. E essa é uma pauta que deve ter ainda muitos capítulos nos próximos anos.

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    Veja também outros artigos que escrevi sobre esse tema no blog:

08/01/2013 – Atenção a histórias de vida sobre a luta em favor dos direitos humanos
11/05/2012 – Liberdade de expressão: o princípio da horizontalidade
15/10/2011 – Internet para muitos ou para poucos e com que custo-benefício?
15/12/2010 – Especial Fórum Social Pan-Amazônico – A luta só está no começo
01/02/2010 – Esp. FSM 2010 – Qual é a nossa conjuntura ambiental?
26/11/2010 – Especial Fórum Social Pan-Amazônico – Abertura leva centenas de pessoas à orla
25/01/2010 – Especial: Fórum Social Mundial 2010 – Caminhada celebra a diversidade
24/02/2009 – Especial FSM 2009 – Encerramento leva à reflexão sobre a exclusão
20/02/2009 . Mais FSM 2009 – As vozes quilombola paraense e indígena dos Andes
12/08/2007 – Ainda existe um bom jornalismo

COP-19 e a tragédia filipina: realidade cobra eficiência da política mundial, por Sucena Shkrada Resk
17/11/2013 13:15

Com o andamento da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP-19), em Varsóvia, na Polônia, nada é mais incisivo para que haja a mudança de postura geopolítica no mundo, do que a calamidade que atinge a população das Filipinas, no Sudeste Asiático, há uma semana. É a prova dolorosa da emergência de um posicionamento concreto das nações que compõem o sistema ONU, quanto ao enfrentamento dos eventos extremos e, em especial, de apoio aos países mais vulneráveis.

E de onde vêm as respostas mais concretas no campo das negociações? Do grupo dos 48 países mais pobres do planeta (a maior parte africanos e países insulares), por meio das iniciativas dos Programas Nacionais de Ação para Adaptação. Mas para que as propostas se tornem efetivas, precisam de recursos oriundos de apoio dos países mais desenvolvidos, que já haviam acordado em COPs anteriores a liberação de um Fundo com esse propósito, por volta de US$ 100 bi anuais. No entanto, até agora, praticamente US$ 8 bi foram aplicados com essa finalidade em 2013, conforme levantamento da ONG Oxfam. Com isso, as retóricas se perdem em papéis e burocracias. E mais um contexto de retrocesso ao encaminhamento a uma economia de baixo carbono é que para cada US$ 1 em apoio às energias renováveis, US$ 6 se destinam a combustíveis fósseis mundialmente.

Efeitos da tragédia

Os números ainda são imprecisos devido ao caos que os filipinos vivem. Estima-se, por enquanto, cerca de 4 mil mortos e oficialmente mais de 10 milhões de cidadãos afetados no país pelo tufão Haiyan, que implacável, com ventos de até 315 km/h, devastou várias regiões. Classificado na categoria 5 (mais grave), foi pela primeira vez registrado. Conforme anúncio da Organização Internacional do Trabalho (OIT), mais de um milhão de pescadores e camponeses perderam seus meios de sobrevivência.

Segundo cientistas, o que se pode observar na série histórica é que esses eventos extremos estão aumentando a capacidade de destruição nos últimos 30 anos. A localização geográfica do país, no chamado Anel de Fogo do Pacífico, também o insere no hall das nações que sofrem com os efeitos dos terremotos, erupções vulcânicas, ciclones e tufões. Recentemente, em outubro deste ano, um terremoto de 7,2 graus atingiu a província filipina de Bohol e resultou na morte de 222 pessoas, em 976 feridos e em mais de 73 mil casas comprometidas, de acordo com o Governo.

A infraestrutura precária dificulta as ações humanitárias. Centenas de corpos estão sendo enterrados em valas comuns, milhares de pessoas ainda estão desaparecidas, outras necessitando de amparo médico. Hospitais foram comprometidos e a Cruz Vermelha e os Médicos Sem Fronteiras, entre outras organizações, estão montando suas estruturas para o atendimento. Forças internacionais levam alimentos e medicamentos, que têm de ser jogados por aviões, porque o acesso terrestre está comprometido. O perigo de contaminação das águas é o que mais preocupa. O risco de doenças infectocontagiosas é iminente.

E como não lembrar do Tsunami em 2004, no Índico, e do terremoto no Haiti? Da tragédia na serra fluminense e no Morro do Bumba, no estado do Rio de Janeiro, das enchentes no Vale do Itajaí? Todos ainda tão presentes na vida das pessoas que sobreviveram às tragédias; muitas sequeladas física e mentalmente. E o que marca todas essas localidades, é a pobreza associada aos efeitos mais destruidores desses desastres naturais. As políticas públicas, por muitas vezes, não se dialogam. A fragilidade de sistemas de alerta ainda é grande em muitos locais, apesar de avanços em algumas regiões.

Diante de tanta vulnerabilidade e ineficácia, de maneira geral, da política global, o que chama a atenção sempre é a resiliência e a postura de milhares de cidadãos comuns, de representantes de organizações não-governamentais (ONGs) e das forças-tarefas internacionais envolvidas para reduzir ao máximo o sofrimento de quem sobreviveu. Grande parte é de voluntários, o que é importante salientar.

No contexto da era tecnológica, além do trabalho de campo árduo, há também ações de apoio digitais, que se somam no século XXI. Um fato interessante é a experiência de cerca de 700 voluntários que fazem o remapeamento das áreas afetadas pelo tufão para facilitar o resgate das vítimas e de corpos nas Filipinas. Para isso estão utilizando a plataforma OpenStreetMap.
Agora, no campo da política, ainda muito a alcançar e para se efetivar fora das salas climatizadas das conferências de negociações.

Veja também outros artigos sobre o tema das mudanças climáticas, no Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk:
14/10/2013 – Água: um bem depreciado na sociedade do desperdício
14/01/2013 – Reflexão: a desertificação e o consumo inconsciente
27/08/2012 -No contexto das nove fronteiras
20/08/2012 – Eventos naturais extremos: prevenção no centro da pauta
07/08/2012 – Políticas fragmentadas e mudanças climáticas intensificam crise na África
23/05/2012 – Riomais20 – Como tratará da realidade da África Subsaariana
10/03/2012 -Refugiados climáticos: do alerta ao fato
04/03/2012 – Pensata – Rio+20: agora é a vez do como
13/01/2012 -Rio+20: O que fazemos com tanta informação?
27/12/2011 – As teias que ligam a COP17 com a Rio+20
10/12/2011 -Relatório de Adaptação do IPCC: será que eles leram
09/11/2011 – Refletindo sobre o Estado do Futuro/Projeto Millennium
07/10/2011 – Russell Mittermeier-p1: foco em conservação das espécies e áreas protegidas
27/09/2011 – Quem quer fazer parte da estatística fatal provocada pela poluição?
13/09/2011 – A Rio+20 sob o olhar de quem esteve na ECO 92
07/08/2011 – O que se fala sobre vulnerabilidade climática (parte 1),
06/08/2011 -Seca na Somália: precisamos sair de nossas caixas blindadas
22/12/2009 – Especial COP15: Agora é a vez do panettone
19/12/2009 – Especial COP15 – O desacordo sela encontro
13/12/2009 – Especial COP15 – O balanço dos antagonismos
10/12/2009 – Especial COP15 – Lembrem bem deste nome – Tuvalu
06/12/2009 – Copenhague vira o centro do planeta
22/11/2009 – EIMA7: Como sair na contramão dos rumos das mudanças climáticas?
22/11/2009 – EIMA7: Entrevista: Giovanni Barontini sobre a COP-15
29/07/2008 – Parte 2 – Plano Nacional de Mudanças Climáticas vai à consulta pública

*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk

Eduardo Viola: A inércia e o conservadorismo da sociedade, por Sucena Shkrada Resk
03/11/2013 18:24

Eduardo Viola e Carlos Tautz, em Brasília (crédito da foto: Sucena S.Resk)
“Se o mundo é inercial, não é só porque um grupo é conservador, mas a sociedade é conservadora”. Até hoje essa frase que ouvi recentemente do sociólogo e Doutor em Economia Política Internacional, Eduardo Viola, ecoa como um sinal de alerta sobre o comodismo velado no qual vivemos na sociedade contemporânea e leva a um questionamento: qual parte cabe a cada um de nós “neste latifúndio”? Pensando bem, tem razão. Afinal, cada um de nós é protagonista nessa engrenagem. Basta listar algumas indagações também provocativas: quem vota e ao mesmo tempo acompanha a gestão de seus candidatos e cobra plataformas? quem consome de forma consciente pensando em ecoeficiência e na justiça socioambiental? Como cada um de nós descarta os resíduos? E quem sofre as consequências do desiquilíbrio de tudo isso? Fazer essas reflexões, incomoda, não há como negar.

Para o sociológico, na atualidade “falta economia política” e ele não tem dúvida de que quando se trata da chamada economia verde é preciso não se iludir – “Alguns ganham, outros perdem (nessa balança) ou seja, não há uma relação somente do ganha-ganha. E complementa sua análise, citando que na fase inicial de transição para uma economia de baixo carbono seria necessário muito mais que 2% do Produto Interno Bruto Mundial, percentual que consta em relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Segundo Viola, hoje a demografia e o nível de consumo são dois problemas-chave a serem considerados e entram nos contextos complexos culturais e das religiões. Com olhar crítico sobre a condução da gestão política, ele analisa que no panorama dos países em desenvolvimento – com destaque aos BRICS -, no Brasil há um posicionamento ambivalente, enquanto Índia e Rússia, por exemplo, são conservadoras e a China é antagônica. Uma matemática um tanto difícil de se equilibrar.

Em sua opinião, não haverá avanços, de maneira geral, nesses países e no mundo se não houver a reforma do sistema tributário mundial. Ele é a favor de que se aumente o imposto sobre a geração de poluição e emissão de carbono.

O sociólogo parte do princípio que é necessário observar questões elementares para analisar o desenvolvimento. Com relação ao Brasil, cita como exemplo, o número elevadíssimo de veículos, que até 2012, é de uma frota de 76.137.125 unidades. “É um fator preocupante e nos últimos governos tem havido o incentivo à venda de automóveis…Ao mesmo tempo, investimentos ainda tímidos em energia limpa, como é o caso da energia solar”.

No aspecto socioambiental, “o saneamento no país (em particular, o esgotamento sanitário) é uma vergonha e resulta em conseqüências desastrosas ao desenvolvimento infantil”, diz. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) revela que ainda 43% das residências não têm rede de esgoto.

Essas situações demonstram a fragilidade entre discurso e ações para equacionar o processo, muitas vezes, inercial em que vivemos no contexto da economia política nacional para uma sociedade de baixo carbono. No livro Sistema internacional com hegemonia das democracias de mercado: desafios de Brasil e Argentina, de autoria de Viola, que é professor de Relações Internacionais da UnB e de Héctor Ricardo Leis, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, há um trecho interessante que destaca: “…o tipo de relação pessoal de privilégio e segregação promovido pelas elites nacionais é nefasto para as pretensões nacionais de potência, uma vez que ‘a lentidão do Brasil cobra um forte preço em termos de prosperidade e oportunidades”. A observação é feita pelo professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Roraima, Thiago Gehre Galvão. Algo a se pensar.

Viola falou a respeito do tema Transição Global para uma Economia de Baixo Carbono, durante o 5º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, em outubro, em Brasília.

*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk

Veja também:
Enrique Leff alerta sobre o reducionismo econômico, por Sucena Shkrada Resk

Enrique Leff alerta sobre o reducionismo econômico, por Sucena Shkrada Resk
27/10/2013 21:09

Achar normal as instabilidades planetárias que são aceleradas com a intervenção humana e reduzir a complexidade do planeta pela economia do mercado são alguns dos grandes equívocos na contemporaneidade, segundo o economista e ecologista político mexicano Enrique Leff , que participou no último dia 18 de outubro, do 5º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, em Brasília.

O pensador avalia que houve o avanço do processo de desconstrução do pensamento sobre o progresso que permitiu a consolidação da ideia de que pode ultrapassar limites. Ao mesmo tempo, segundo Leff, uma forma de organizar o mundo moderno surge por meio da própria crise ambiental, que representa uma oportunidade de se ecologizar a economia por meio do diálogo com a produtividade tecnológica e a criatividade cultural.
“Nem todas as coisas no mundo podem ser traduzidas pela economia de mercado. Hoje muitos economistas promovem o reducionismo da complexidade ambiental. A sustentabilidade é um conceito polissêmico…e aí falamos de economia verde como se fosse mais fácil, como também se normaliza um desastre o chamando de natural, sendo que deixou de ser”, alerta.

Em um de seus textos clássicos sobre Ecologia Política, o economista explica que a mesma surgiu como uma resposta social ao esquecimento da natureza pela economia política. O economista considera que na transição do estruturalismo com foco na determinação da linguagem, o inconsciente, a ideologia, o discurso, as estruturas sociais e de poder, o modo de produção e de racionalidade econômica, o pensamento pós-moderno, o discurso sobre a libertação deslocou-se para a sustentabilidade da vida.

Leff observa que a Ecologia política também abre novos horizontes de ação social e de construção histórica que seguem além da intenção da economia ecológica para internalizar as externalidades ambientais , para restringir o desempenho econômico ou adaptar mecanismos econômicos às condições ecológicas de sustentabilidade.

O economista é autor de vários títulos, entre eles, Ecologia e Capital; A Complexidade Ambiental; Ecologia, Capital e Cultura: Racionalidade Ambiental, Democracia Participativa e Desenvolvimento Sustentável; e Discursos Sustentáveis.

Veja também:
11/2009 – Entrevista especial ao Blog Cidadãos do Mundo- Enrique Leff, da sabedoria tradicional à COP-15 (compartilhada também em https://www.portaldomeioambiente.org.br/editorias/ambiente/mudancas-climaticas/2463-entrevista-especial-enrique-leff-da-sabedoria-tradicional-a-cop-15)
*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk

Leia mais: https://cidadaosdomundo.webnode.com/news/enrique-leff-alerta-sobre-o-reducionismo-economico-por-sucena-shkrada-resk/

Água: um bem depreciado na sociedade do desperdício, por Sucena Shkrada Resk
14/10/2013 23:27
Já se tornou algo habitual ouvir falar que a água hoje tem o mesmo “valor” que o petróleo teve neste século e no século passado no mundo. A comparação quanto ao peso geopolítico, socioeconômico e na balança das perdas e danos dos recursos naturais tem toda coerência, tendo em vista os cenários previstos para as próximas décadas.

O mais recente informe realizado durante a Cúpula da Água, que ocorreu em Budapeste, neste mês, é a possibilidade de que em 2030 a demanda por água seja 40% maior que a sua oferta no mundo. Entre os principais motivos para essa escassez, estão o desperdício, a poluição, o aumento de irrigação para os cultivos, além de produção de energia elétrica, que são fatores antrópicos, em combinação com o avanço das mudanças climáticas. Mas o sinal vermelho já se faz presente há muito tempo: afinal, mais de 800 milhões de pessoas não têm acesso à água potável. Algo impossível de mascarar.

Apesar de essa realidade perversa persistir, devido à inércia do sistema geopolítico vigente, os cerca de 1,5 mil participantes do encontro reforçaram que o acesso geral e universal à água potável e ao saneamento integra os Direitos Humanos. A questão básica e desafiadora, na prática, é tornar esse direito factível. As projeções pouco promissoras para os próximos anos já haviam sido destacadas na 4ª edição do Relatório de Desenvolvimento Mundial da Água (https://www.unesco.org/new/en/natural-sciences/environment/water/wwap/wwdr/wwdr4-2012/), no ano passado, quando ocorreu o 6º Fórum Mundial da Água, em Marselha, na França, como em ano anteriores e foram propostas centenas de soluções.

O problema é fazer com que haja ações coordenadas e essa questão não é desconhecida à governança mundial e local. Faltam projetos efetivos na área de tratamento e reúso das águas e conservação de ecossistemas. Iniciativas isoladas são propagadas, entretanto, não ganham corpo coletivo ou consorciado.

Na América Latina e Caribe, onde nós brasileiros vivemos, estão mais de 8% da população mundial e desse total, percentual superior a 80% no cotidiano das cidades (zona urbana). É uma bolha prestes a explodir. A expectativa é que em 2030 sejamos 609 milhões de pessoas. E como lidar com esse crescimento demográfico e todos os conflitos que envolvem a necessidade da repaginação das atitudes com relação ao consumo consciente no cotidiano e à maneira de lidar com a produção agrícola e industrial? Não é possível esperar que a salvaguarda na região sejam os 73 aquíferos existentes, com destaque para o Aquífero Guarani.

Se o ciclo vicioso continuar, não é difícil que os países de nossa região estejam na faixa dos hotspots globais como Camboja, Indonésia, Lao, Filipinas, Índia, Myanmar e Tailândia no continente asiático e os países do Chifre da África. Vale observar que pesquisadores da BGS e da Universidade College London constataram recentemente que ao norte da África, nas grandes bacias sedimentares de Líbia, Argélia e Chade, existem grandes reservas de aqüíferos como também no Congo, em Gâmbia, parte de Guiné-Bissau, na Mauritânia e no Senegal, entre outros países. E toda essa abundância está sob um deserto, que um dia foi uma savana. E numa savana, há a perspectiva de se transformar a Amazônia, no continente sul-americano.

Tudo isso reflete as fraturas existentes no nosso modelo de desenvolvimento no planeta. Com a possibilidade de cenários extremos até o final do século, que preveem o aumento da temperatura média do Planeta em até 4,8 graus, segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), a prioridade de ações mais efetivas se torna imediata. Tendo em vista a lógica de que o amanhã “indesejado” será brevemente o hoje.
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*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk

Educação: o exemplo de Malala, por Sucena Shkrada Resk
13/10/2013 13:38
A segurança nas convicções da jovem paquistanesa Malala Yousafzai Montero, de 16 anos, chega a deixar muitos adultos desconcertados e eu me incluo nesse hall. Após sofrer uma emboscada, há um ano, quando levou um tiro na cabeça, no ônibus escolar em que se encontrava, no Vale do Swat, no Paquistão, ela conseguiu sobreviver e continua sua luta para que prevaleça o direito à educação gratuita a crianças de baixa renda, principalmente a estudantes do sexo feminino em seu país, sob o regime Talibã. Estima-se que existe hoje por volta de 34% da parcela feminina do Paquistão nas escolas locais.

Entre a vida e a morte, essa adolescente foi encaminhada ao Reino Unido, onde ficou internada até janeiro deste ano e teve de passar por cirurgias para a reconstrução craniana. E após sair do hospital, sofreu uma reviravolta em sua vida. Ela passou a morar com sua família por lá, estabelecendo uma relação mais próxima com uma nova cultura, e a frequentar um colégio na Inglaterra, pois ainda sofre ameaças de extremistas.

A sua mobilização ganhou reconhecimento em todo mundo e não é de agora. Teve início por volta dos seus 11 anos, quando começou a sentir de perto a pressão sobre a sua liberdade de estudar como de demais meninas de sua idade. Ao se observar sua biografia, talvez a influência tenha vindo de seu próprio pai, que é um militante pela democratização da educação e proprietário de escola, mas a menina estabeleceu uma marca própria para se expressar. Ela criou à época o blog Diário de uma estudante paquistanesa, primeiramente com pseudônimo, que foi descoberto pela mídia Ocidental e projetou seus apelos.

Hoje depois da experiência marcante em sua vida, ela já escreveu uma autobiografia Eu sou Malala, com auxílio da jornalista britânica Cristina Lamp, além de criar o Fundo Malala para a causa. Com desenvoltura, a jovem que quer futuramente ser política se pronunciou recentemente a diplomatas da Organização das Nações Unidas (ONU) e já esteve com Barack Obama e sua família. Apesar de obter apoio institucional de várias partes do mundo, o seu posicionamento também gera protestos de uma ala do regime paquistanês. O seu exemplo, no entanto, é atualmente um dos mais importantes com relação à liberdade de expressão no mundo e faz refletir sobre as necessidades de mais de 800 milhões de analfabetos no planeta (mulheres e homens).
*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk

Personagens de Sampa: Uma noite na Paulista ao som da banda Xupisco, por Sucena Shkrada Resk
04/08/2013 19:53
Sexta-feira (02/08), 20h, uma noite quente e um som harmonioso ao fundo de Música Popular Brasileira (MPB) em pleno calçadão da avenida Paulista, em frente ao Conjunto Nacional. A curiosidade é maior. Afinal, de onde vêm essas músicas? Logo, vou à procura da resposta. Da banda Xupisco, formada pelo mineiro José Ivo, 76 anos, pelos paulistanos José Roberto, 65, Paulinho do Circo, 69, e Hélio Medeiros, 80. Os quatro se apresentando formam uma bonita imagem no cenário do concreto urbano. A trupe veterana, que se conhece há 40 anos, dá vida aos instrumentos caixa, surdo, trompete e trombone, e faz com que quem passe por lá viaje no tempo, quando ouve as performances.

Nem o barulho do trânsito e o burburinho das pessoas, que passam freneticamente pela calçada, conseguem apagar essa atmosfera de déjà vu propiciada pela banda. Essa cumplicidade musical é apreciada por diferentes gerações no coração financeiro de “Sampa”, e não é de hoje. Segundo Ivo, há pelo menos 15 anos, os músicos tocam nesse trecho da Paulista, às quintas e sextas-feiras, entre 18h e 20h30. Com uma simplicidade desconcertante, eles colocam uma pequena caixa na qual os apreciadores destinam o valor que quiserem e puderem aos músicos.

O repertório é composto por alguns clássicos, como explica Paulinho e Hélio. “Entre os que mais gostamos de tocar, está Feitiço da Vila, de Noel Rosa”, diz Hélio e logo, continua a tocar com seus companheiros dando ritmo a uma São Paulo que sempre surpreende e nos faz sair da monotonia…

*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk

Um Outono que já marca as nossas vidas, por Sucena Shkrada Resk
30/06/2013 21:34
“Meu partido é meu país”, “Reforma política”, “Você não me representa”, “País rico é país sem corrupção”, “Chega de corrupção”, “Vem pra rua que a luta é sua – #insatisfação”, “Desculpe o transtorno, estamos mudando o país”, “Verás que um filho teu não foge à luta”, “O gigante acordou”, “O povo acordou, o povo decidiu ou para a roubalheira ou paramos o Brasil”, “Não são só centavos, são bilhões de desigualdade”, “Queremos escolas e hospitais com padrão FIFA”, “Na luta por moradia”, “Copa para quem?”, “Professor te desejo um salário de deputado e o prestígio de um jogador de futebol”, “Imposto demais, serviços de menos”, …Essa quantidade imensa de pautas começou no Outono, o que confere um período simbólico, e cresce e mobiliza brasileiros nessas últimas semanas, marcando um novo momento histórico no país. Estima-se que mais de 20 milhões foram às ruas em mais de 200 cidades (além das mobilizações e debates virtuais) e esse quadro de insatisfação da população continua e já é acompanhado pelo mundo.
Estou buscando pela memória se vivemos um mês de junho pós-Ditadura tão intenso como este? Um outono em que o vento metaforicamente soprou com tamanha força fazendo redemoinhos em nossas vidas e mudando paradigmas de modelo de desenvolvimento…Certamente que não. Nem no período da mobilização das “Diretas Já” tivemos algo, de tamanha proporção e cobrança popular. Como analisa o pensador catalão Manuel Castells, o espaço público reúne a sociedade em sua diversidade e por isso abriga desde a “direita”, a “esquerda aos sonhadores, realistas e revoltados.
Mas dar respostas precisas agora sobre os possíveis resultados do fenômeno dos protestos que invadem as mídias sociais, as ruas e, acima de tudo, a relação de cidadãos com o Estado e os poderes constituídos, seria achismo em qualquer vertente, seja antropológica, sociológica ou no campo da Ciência Política. Cada um de nós, de alguma forma, é protagonista nesta história em construção e consciente ou inconscientemente essa constatação se dá por meio da abertura de uma “caixa de pandora”, que estava “entalada” na garganta da maioria da sociedade brasileira.
Muito além da reivindicação da redução dos R$ 0,20 nas tarifas de transporte ou a gratuidade, que foram o estopim aparente em São Paulo pelo Movimento Passe Livre (MPL), o que vimos no Brasil é o despertar de cidadãos comuns com ligações ou não com outros movimentos – sem uma liderança específica – que combatem o desgaste de um modelo de governabilidade que acarreta por décadas a falta de qualidade na mobilidade urbana, nas áreas da saúde, da educação, socioambiental, de direitos humanos, na capacidade do país na geração de empregos de qualidade para parte da população, e acima de tudo, revela que o brasileiro está dando um basta à corrupção e exige transparência e participação no acompanhamento da aplicação das verbas públicas. O aumento do custo de vida em detrimento da qualidade de vida permeia todas as agendas das manifestações.
Alguns analistas comparam a mobilização brasileira à Primavera Árabe, ao movimento dos Indignados e a outras formas de manifestação mundiais. O que, no entanto, é perceptível em todo o processo é a constatação que aos poucos nós, brasileiros, começamos a ter maior esclarecimento do que é direito da coletividade e o verdadeiro sentido da palavra “público”. Isso quer dizer: que cada um dos poderes instituídos é mantido por toda sociedade e deve trabalhar para o bem coletivo.
Extra as cenas de violências pontuais – por pessoas que desagregam as manifestações pacíficas ou reações desmedidas de órgãos de segurança em algumas localidades – o que vivemos hoje pode ser analisado como algo salutar. Grande parte dos que se mobilizam das maneiras mais diferenciadas demonstram que palavras vãs não bastam. A reação dos governantes e do Congresso, nos últimos dias, comprova que esse momento histórico é encarado com aparente seriedade por quem foi eleito pelo voto democrático. Há um quadro de insatisfação crescente com relação ao sistema corroído de barganhas políticas que diluem o conceito teórico de Estado democrático.
A cogitação de um plebiscito para a reforma política anunciado pela presidente Dilma Rousseff, a derrubada da PEC 37 (que retiraria o poder de investigação do Ministério Público) no Congresso e a votação em tempo recorde de projetos, como da corrupção ser enquadrada como crime hediondo, e de incentivos às reduções de transporte público, demonstram que o povo, de alguma forma, mexe nas estruturas do poder. A questão a partir de agora é: as mudanças para melhor a todos nós e à nação como um todo realmente serão uma constante daqui para frente ou circunscritas ao atual momento? Qual será o reflexo nas urnas e na estrutura do modelo de governança no país e a relação com o empresariado, os movimentos e organizações e à sociedade em geral?
*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk

Sr. Pedro, o barqueiro, por Sucena Shkrada Resk
16/06/2013 20:19
O seu nome é Pedro Roque do Carmo. Profissão: barqueiro de táxi fluvial. Conheci esse amazonense de 65 anos, em maio, em Manaus, ao fazer um passeio em seu barco na região do encontro dos rios Negro e Solimões, que formam o Amazonas, e de igarapés, acompanhada por mais quatro colegas jornalistas. Essa pequena história poderia ficar só na memória fragmentada das minhas viagens, se não fosse o gesto honesto que esse senhor teve conosco. Ao nos abordar para saber se queríamos fazer o passeio, não quis nos explorar e nos cobrou um valor justo por uma hora e meia praticamente de passeio. E lá fomos nós para nossa aventura com esse profissional anônimo que há 26 anos navega nos rios do Estado.
Apesar de ser a segunda vez que tive a oportunidade de ver esse cenário, a experiência foi agregadora, tendo em vista que “as águas de um rio nunca são as mesmas águas”, como dizia o pensador pré-socrático Heráclito de Éfeso. Ao engatar o proseado com “seu” Pedro descobri que ele já tinha feito viagens com seu barco até o rio Padauari a uma distância de cerca de 200 km de Manaus, que fica no limite entre os municípios de Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos.
Justamente nessa época que estávamos fazendo o passeio, “seu” Pedro também vivenciava a oitava pior cheia no Rio Negro, que havia atingido marca superior a 29 metros, e afetado 14 bairros em Manaus. “Geralmente fica na faixa dos 13 metros”, explicou.
Esse homem, de hábitos simples, também contou que comia peixes praticamente todo dia. Entre os mais comuns, estavam a piranha, o pintado e o tucunaré. Um indicativo peculiar do cardápio local que difere muito dos costumes do Sudeste.
Ao chegarmos ao encontro dos rios, ele parou e fez com que sentíssemos a temperatura diferenciada entre os rios Negro e Solimões (respectivamente mais quente, por causa da menor densidade e acidez, e mais fria), além da característica visível dos diferentes tons da água – preto e barrento. De maneira informal, ele estava nos transmitindo conhecimentos de educação ambiental na prática, o que me deixou a sensação boa de aprendizado.
Quando estávamos chegando à região dos lagos, mais uma parada estratégica. Enormes vitórias-régias estavam ao lado da embarcação. Com um gesto espontâneo, o barqueiro puxou um exemplar e nos mostrou a parte interna e pediu para tocá-la para que conseguíssemos ter noção da diferença de textura, já que é mais grossa, com nervuras, e avistar sua raiz. Nas proximidades, casas flutuantes de madeira revelavam um pouco da vida dos ribeirinhos locais.
crédito das fotos: Sucena Shkrada Resk

Como brinde ao nosso rápido passeio, ele nos levou aos igarapés e a áreas de igapós (vegetação submersa típica da Amazônia) e nos apresentou a árvore parasita (apuí), que poderia ter nos passado despercebida. E quem poderia pensar que em pouco mais de uma hora pudéssemos absorver tantas informações, não é, de forma coloquial?
Crédito das fotos: Sucena Shkrada Resk

Moral da história: são nesses momentos do cotidiano, aparentemente de lazer descomprometido, que podemos desfrutar das melhores conversas, que nos acrescentam…Sendo assim, vai a dica: quem for para Manaus, recomendo contratar “seu” Pedro e depois nos contar a experiência.

*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk

Hortas urbanas: um exercício de desprendimento, por Sucena Shkrada Resk
16/06/2013 16:15
O cenário urbano de São Paulo nos reserva algumas surpresas em meio ao caos composto por espigões, veículos e todo o tipo de poluição, da atmosférica à visual. De forma gradativa, um contingente de voluntários tem tornado a paisagem mais harmoniosa com os princípios da agroecologia por meio de “hortas comunitárias urbanas” espalhadas em locais movimentados, como a Vila Madalena (Horta das Corujas), em um canteiro central na avenida Paulista com a avenida da Consolação e mais recentemente na área externa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Exemplos se reproduzem em outros bairros e municípios.

Munidos com sementes, mudas, enxadas, além da boa vontade, esses hortelões cultivam legumes e hortaliças e exercitam o desprendimento. Ao mesmo tempo compartilham a produção com o público que circula nas imediações. Um pouco de suor e terra nas unhas é a combinação perfeita para que façam uma terapia mental e colaborativa. Afinal, a produção não está lá só para ser fotografada.
Nem as partículas finas suspensas da poluição (agressivas aos nossos pulmões) tornam essas ações menos positivas, na avaliação dos participantes. O que é consenso entre esse grupo é que essa circunstância “adversa” de plantio exposto à emissão de gases poluentes dos veículos ainda é bem melhor do que o contexto da aplicação de agrotóxicos. Aí é só escolher e fazer uma salada ou quem sabe, um cozido com alface, beterraba, couve, milho, salsinha, tomilho…Ou fazer um chá de boldo, quem sabe.
A jornalista Claudia Visoni, uma das articuladoras da “Horta do Ciclista”, na avenida Paulista, conta que a iniciativa que começou em outubro passado conta hoje com um grupo fixo de 10 pessoas, que colocam a mão na massa nos primeiros domingos de cada mês. “Já passaram por aqui cerca de 100 colaboradores até agora”. Há cinco anos ela começou a plantar e garante que “tomou gosto” pela prática. “Comecei a estudar a respeito e me envolvi com o movimento orgânico”, diz.
Ariel Kogan, mobilizador da Rede Nossa São Paulo, é mais um voluntário na equipe. Tirar as ervas daninhas e preparar a terra para novos plantios, segundo ele, é um exercício que já faz parte de sua agenda.
Onde existe uma horta, também não é difícil encontrar o jornalista Paulo Sérgio Zembruski, que pratica os conhecimentos do tempo em que participou do curso técnico em Agronomia. “Participo de uma atividade na zona Leste (além da avenida Paulista) e recentemente estive no grupo que criou a horta da FMUSP. “Lá colocamos inicialmente 10 bombonas azuis onde fizemos o cultivo. A iniciativa tem a participação de alunos, de funcionários e da comunidade, além dos professores Paulo Saldiva e Thaís Mauad”.
Eu tive a oportunidade de ver esses hortelões em ação, neste mês, na avenida Paulista, o que gerou mais um pouco de conhecimento sobre essas práticas que mudam a “cara” e comportamento na capital paulista.
Saiba mais:
Horta das Corujas: https://hortadascorujas.wordpress.com/hortas-urbanas/
ou https://www.facebook.com/HortaDaFmusp?ref=stream#!/groups/263138953790722/
Horta do Ciclista: https://pt.wikiversity.org/wiki/Horta_do_Ciclista
Horta da FMUSP: (https://www.facebook.com/HortaDaFmusp?ref=stream).

crédito das fotos: Sucena Shkrada Resk

*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk

Memória socioambiental: o legado de “Realidade”, por Sucena Shkrada Resk
02/06/2013 11:33
A encadernação é delicada e para folheá-la o cuidado tem de ser redobrado. Afinal 43 anos se passaram. Estou falando da edição de maio de 1970 da Revista Realidade, da Editora Abril, que traduzia em suas matérias as facetas de um Brasil que ainda permanecem pouco alteradas, se formos colocar uma lente ampliada sobre as pautas. Estou relendo esse exemplar que adquiri em um sebo em Belo Horizonte, há alguns anos, o que me permite fazer uma reflexão histórica pelos tortuosos caminhos da sustentabilidade. As reportagens ganham vida até hoje em novas leituras porque exprimem trabalhos de apuração de um jornalismo vivencial enriquecidos por fotos humanizadoras. Uma dobradinha salutar.
“A Alma do Nordeste” (texto e fotos: Hamilton Ribeiro e Luigi Mamprin); “Terra, trabalho: fazenda” (texto: Jorge Andrade e fotos: Maureen Bisilliat); “Eles se odeiam por lei (Luís Edgar de Andrade); “No fundo da Rocha – a dois mil metros –a quarenta e um graus – Ouro(texto: Talvani Guedes da Fonseca e fotos: Jean Solari) e “Sós, com Deus” (texto: Rodolfo Konder e fotos de Chico Aragão), entre outras matérias expressam a história brasileira e mundial, que por muitas vezes, eram e são generalizadas nos livros oficiais.
Nessa escola de jornalismo, o profissional se torna um “contador de histórias” nato e demonstra o quanto é imprescindível ter um olhar racional e sensibilizado por qualquer assunto que deva relatar. O x da questão é compreender os meandros socioeconômicos e de fundo político, pois tudo está interligado, nos bastidores da notícia. Naquela época, o país vivia o regime da Ditadura e no mundo as preocupações com o que chamamos hoje de “pegada ecológica” já se acentuavam com o Clube de Roma, se estruturando na Conferência de Estocolmo em 1972.
Agora, no ano de 2013, o que se observa? A população nordestina, principalmente, no agreste, vive hoje a pior seca nos últimos 50 anos, passa em muitas localidades, as privações de décadas atrás, com fisiologismos políticos que emperram o desenvolvimento. Como contextualizar esses tempos históricos que concentram esse tema? Eis aí uma provocação. A água se transformou no ouro azul e vimos a poluição nos nossos cursos d`água e em nossos aquíferos a soma desse tempo histórico. A savanização na Amazônia se agrega a essa rede de relações climáticas e antrópicas.
O racismo e o apartheid até hoje são marcas difíceis de apagar. Sucessões de experiências nesse contexto ocorrem pelo mundo, com o chamado racismo ambiental, que ganha novo tônus, com o conceito de justiça socioambiental. Se formos ver o tema da mineração, a pauta por aqui é o novo Código de Mineração e até onde se permite o extrativismo e o que isso reflete sociambientalmente falando e nas divisas” do país. O que realmente mudou ou mudará?
Exemplos de práticas de hortas orgânicas, comunitárias e caseiras deixam de ser a exceção e começam a se destacar nos grandes centros urbanos e no campo com a agricultura familiar x a monocultura em grandes extensões de terra e sistemas de irrigação obsoletos. As mudanças de comportamento se aplicam à exigência que se acirra com a explosão demográfica vigente e em projeções para as próximas décadas e com a trajetória dos agrotóxicos que se multiplica pelos anos. Nunca é demais lembrar da “Primavera Silenciosa”, da bióloga Rachel Carson, na década de 50. Essas experiências exigem novos comportamentos da relação do homem com a natureza, que se traduzem na qualidade de vida ou melhor, na falta dela.
O que é perceptível em tudo isso é que as histórias se repetem com outros personagens. A maneira de operar em muitas situações, pouco se transformou. Vieram novas siglas, nomenclaturas, cargos, políticas, entretanto, a base dos problemas permanece. Somos capazes de fazer essas análises isentas de paixões e partidarismos na atualidade?
Diante desse déjà vu, acredito que alguma coisa é possível aprender. Fazer diferente é salutar, mas esquecer, jamais. Essas pontes no tempo são necessárias para que o excesso de fragmentos não destrua a capacidade de um jornalismo que comunica e que acima de tudo, instiga na outra ponta, aquele “chacoalhão” que permite refletir e não se acomodar.
*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk

Qualidade do ar: será que ainda há tempo?, por Sucena Shkrada Resk
01/05/2013 20:22
O ar que respiramos nos grandes centros urbanos é praticamente irrespirável, se formos observar a diversidade de poluentes primários e secundários (resultantes da reação química entre poluentes primários e componentes naturais da atmosfera) acima dos limites recomendados pelo Guia de Qualidade do Ar da Organização Mundial de Saúde (OMS) – Atualização Mundial de 2005. Trocando em miúdos, somos impactados pela quantidade excessiva de monóxido de carbono, de dióxido de enxofre e de ozônio, entre outros gases. Esses poluentes penetram em nosso organismo e fazem uma devastação implacável. Os resultados em médio e em longo prazos são doenças pulmonares e cardiovasculares.

Segundo o médico Paulo Saldiva, do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Universidade de São Paulo (USP), cerca de 4 mil pessoas morrem anualmente em São Paulo em decorrência de doenças respiratórias associadas à poluição. É como se cada pessoa fumasse pelo menos três cigarros diariamente e os comprometimentos acontecem desde a fase fetal.

No âmbito mundial, a complexidade se torna maior. Relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que em 2050, a poluição do ar deverá se transformar na maior causadora dos problemas de saúde associados a causas ambientais. Por uma questão demográfica, na China e Índia, deverão morrer 40% de 3,6 milhões de pessoas anualmente.

O que torna a situação mais grave é que não se trata de um assunto recente na agenda ambiental. Pelo menos, desde a década de 70, temos registros históricos dos efeitos extremos de poluição no Brasil, que sinalizavam a necessidade de políticas mais robustas para combater a emissão. De acordo com a Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental do Ministério da Saúde, o primeiro episódio agudo de contaminação do ar acentuado pela inversão térmica aconteceu no município de São Paulo em 1972, e foi provocado por emissões de veículos e indústrias. Quatro anos depois, por uma semana, Santo André, no ABCDMRR paulista, ficou em situação crítica. Já se falava naquela época, das altas concentrações de dióxido de enxofre (SO2) e de material particulado (MP), emitidos pelas indústrias.

Nessa trajetória histórica, o ano de 2005 marcou negativamente 11 cidades no Acre, por causa da queima intensa de biomassa. E o número exponencialmente crescente da frota de veículos no Brasil trouxe um perfil cada vez maior da relação dos combustíveis com as causas da poluição diariamente.

Somente neste ano, por exemplo, começou a ser adotado o Diesel S10 (com 10 partes de enxofre por milhão – 10 ppm). É um processo gradativo, já que o S50 foi introduzido no mercado pela Petrobras em 2012, atendendo ao Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proncove-7). O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), iniciado em 2004, ainda é tímido diante da grandeza do setor. A partir de hoje, por exemplo, o Governo Federal determinou a aplicação de 25% de etanol misturada à gasolina. O que isso pode mudar no quadro da poluição ainda é uma incógnita.
A implementação do Proncove, desde 1986, foi um passo importante, mas não conseguiu solucionar o problema no setor de transportes x combustíveis. A agenda de investimentos na mobilidade urbana brasileira ainda está aquém das necessidades de nossas cidades. A adoção de biocombustíveis, de veículos movidos à energia elétrica, entre outras tecnologias, como o uso de algas, ainda são insuficientes diante da predominância dos combustíveis fósseis.

Monitoramento nos padrões da OMS

No mês de abril deste ano, o que chamou a atenção foi o decreto do governo paulista nº 59.113, do dia 23, que estabelece os novos padrões de qualidade do ar no estado, sob monitoramento da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB). A adoção é baseada nas recomendações da OMS de 2005. Importante detalhe a mencionar. Até agora, as regras eram três vezes menos rígidas que a determinação global.
Para a classificação da qualidade do ar, está sendo considerado um grupo de poluentes formado por materiais particulados inaláveis (MP ), partículas inaláveis finas (MP ), que geralmente atingem os alvéolos pulmonares. Com as novas regras, os 150 microgramas por metro cúbico permitidos antes da legislação são reduzidos, por exemplo, para 120 microgramas por m3 a partir de agora.
Também passam por monitoramento os níveis de emissão de dióxido de enxofre presente principalmente no óleo diesel, de combustível industrial e gasolina, que é um dos elementos que formam a chuva ácida. Outro gás prejudicial à saúde é o dióxido de nitrogênio (NO ), resultante da ação da luz solar sobre o óxido de nitrogênio e que forma oxidantes fotoquímicos, como o ozônio (O ). Esse último encerra a lista dos principais poluentes sob análise. É importante destacar que na estratosfera (a cerca de 25 km de altitude) o ozônio passa de papel de vilão a protetor, nos protegendo dos raios raios ultravioletas solares.

Segundo a legislação em vigor, em até um ano após sua publicação, a CETESB deverá apresentar ao Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) o balanço do monitoramente e publicar o Plano de Redução de Emissão de Fontes Estacionárias (PREFE), que deverá ser atualizado de três em três anos. É previsto que esse documento conterá dados como a participação de redução de emissões de fontes fixas e móveis, convergência com a Política Estadual de Mudanças Climáticas, estudos para adoção de medidas de incentivo fiscal para ações que reduzam os poluentes e acompanhamento de melhores práticas nacionais e internacionais.

Deverão ser publicizados os principais empreendimentos poluidores, além de metas de redução nas regiões com situação mais crítica.
O que gera desconforto diante de todo esse histórico é que a poluição literalmente não tem fronteiras e exige políticas interligadas em nível federal, estadual e municipal. Há um contingente incalculável de pessoas que já morreram ou estão com suas vidas comprometidas por causa da poluição. E qualquer um de nós pode fazer parte das estatísticas.

Glossário:
Material particulado: é um conjunto de poluentes constituídos de poeiras, fumaças e todo tipo de material sólido e líquido que se mantém suspenso na atmosfera por causa de seu pequeno tamanho. As principais fontes de emissão de particulado para a atmosfera são: veículos automotores, processos industriais, queima de biomassa, ressuspensão de poeira do solo, entre outros. O material particulado pode também se formar na atmosfera a partir de gases como dióxido de enxofre (SO2), óxidos de nitrogênio (NOx) e compostos orgânicos voláteis (COVs), que são emitidos principalmente em atividades de combustão, transformando-se em partículas como resultado de reações químicas no ar.
Fonte: CETESB
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*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk

E O SEU NOME É “VINCHUCA”, POR SUCENA SHKRADA RESK
17/04/2013 23:22
Vinchuca…Uma palavra marcante associada à pobreza e à falha de vigilância à saúde que transcende a realidade dos países sul-americanos e já atinge o velho mundo. De origem quéchua, é utilizada principalmente na Argentina, Bolívia, no Chile, na Colômbia e no Paraguai – em regiões como o Grande Chaco. Em português, é o conhecido barbeiro, hospedeiro do protozoário Trypanosoma cruzi, que causa a Doença de Chagas, quando as pessoas têm contato com as fezes contaminadas do inseto. Um inimigo letal, que deixa seus registros na história da saúde pública, desde o período da colonização e que se prolifera em decorrência da relação desequilibrada com o meio ambiente. Um retrato da desigualdade e carência de prevenção.

Conheci essa expressão, ao ler o texto “Os vampiros da realidade só matam pobres – Para Nilce Mendoza Claure”, escrito por Eliane Brum, no livro “Dignidade!”, pela editora Leya, no qual nove escritores falam das vivências dos Médicos sem Fronteiras…
As cenas descritas a cada parágrafo me vinham à mente e reproduziam em coro, uma súplica de tantas famílias anônimas que sofrem com esse ciclo de contágio e desesperança de vida – um alerta epidemiológico – na categoria de doenças negligenciadas – que precisa ganhar mais visibilidade. A situação é tão grave, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) deu início em 2007, a uma iniciativa global de combate à doença (Global Network for Chagas Elimination – GNChE), tendo em vista que mundialmente, mais de 8 milhões de pessoas estão infectadas hoje.
Por mais que haja investimentos em pesquisas, também na abrangência da Organização Panamericana de Saúde (OPAS) , nos países andinos, amazônicos e na América Central, o que se observa é uma ineficiência de gestão, que está ligada à infraestrutura. No Brasil, o maior número de casos é registrado nos estados do Amapá e Pará e está associado ao processo do açaí, segundo o Ministério da Saúde (MS).
O potencial endêmico é ainda maior porque pode haver contágio por meio de transfusão de sangue de uma pessoa infectada. Até 30% dos pacientes que são tratados podem desenvolver doenças cardíacas e intestinais e desse total, cerca de 20% morrem. De acordo com o 2º Relatório sobre Doenças Tropicais Negligenciadas publicado pela OMS, neste ano, a meta é que até 2020 haja a expansão necessária do acesso a medicamentos para o tratamento da doença, entre outras.

O principal caminho para diminuir a incidência de casos é, portanto, a prevenção, que começa pela manutenção de higiene na manipulação de alimentos principalmente in natura e pela utilização de mosquiteiros, telas metálicas e repelentes, entre outras medidas. Segundo recomendação do MS, ao encontrar um barbeiro, o procedimento deve ser o seguinte:

  • Capturá-lo, sem tocar as mãos no mesmo, e colocá-lo em um vidro. No recipiente, deve constar o nome da pessoa que o encontrou, telefone e endereço. O material deve ser entregue à Vigilância Ambiental do município.
    Estar no século XXI e se deparar com tanto sofrimento causado pelo ciclo de uma doença que é “alimentada”, há várias gerações, principalmente pela falta de cuidado humano, nos leva ao questionamento sobre o que é mais importante quando se almeja o desenvolvimento. (SSR)

*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk

Dengue: brechas na prevenção no Brasil, por Sucena Shkrada Resk
07/04/2013 20:20
2013 ou 2002? Ao observar a evolução dos registros atuais de casos de dengue pelo Brasil, eu me recordo de que há uma década, o país vivia uma epidemia, que resultou em campanhas de prevenção e um olhar mais atento da mídia naquele período. À época, fiz várias reportagens no Caderno de Cidades do DGABC e circulava pelas cidades da região, vendo de perto a situação da população e os desafios na retaguarda na saúde pública. Era uma experiência cotidiana de lacunas na saúde ambiental.
Uma década depois, o que mudou? O que se constata é que o foco educativo no aspecto preventivo, de forma geral, ficou esparso, e o alerta continua: ainda há a presença de muitos criadouros da fêmea de Aedes aegypti ou Aedes albopictus (mosquitos transmissores da doença). Assim, permanece o perigo da dengue hemorrágica, que leva à morte, e que já fez cerca de 110 vítimas neste ano.
Minas Gerais é o Estado no qual há o maior número absoluto de notificações de casos suspeitos (165.845) até o último dia 4 e Mato Grosso do Sul apresenta um grande avanço de registros. Só em Campo Grande, foi mais de 41 mil, o que representa um número superior à metade no Estado. Em alerta também estão municípios, como Goiânia, com mais de 91 mil casos, o que representa percentual superior a 704% de notificações com relação ao mesmo período em 2012, conforme noticiado nesta semana.

De acordo com o Ministério da Saúde, nos últimos anos tem havido uma queda de registros, apesar de ainda serem altos. Em 2010, foram 579.818 confirmações, em 2011, 303.526 e no ano passado, 167.279. Nos primeiros meses deste ano, são 635.161 notificações de casos suspeitos e a expectativa é que sejam reduzidas para menos de 200 mil. O maior número de mortes aconteceu em 2010, totalizando 306 registros.

Quantos óbitos poderiam ter sido evitados, por mudança de comportamento e consciência de vigilância sanitária e em saúde incorporada ao cotidiano da população?
Segundo especialistas, um dos complicadores recentes é a introdução do vírus DEN-4, que não circulava no País, desde a década de 80. No entanto, um aspecto primário e crucial no ciclo da dengue é de que: as larvas se desenvolvem em água parada, limpa ou suja. Isso remete à necessidade de ações rotineiras de atenção às caixas d`água, pratinhos de vasos, calhas entupidas, lajes com focos d´água, pneus velhos a céu aberto, entre outros. E o que se deve levar em conta é que, de maneira geral, os sintomas se manifestam a partir do 3° dia depois da picada do mosquitos. Há um espaço silencioso até que as vítimas lotem as unidades de saúde e hospitais, que em muitos casos, não dão conta do número de pacientes.
Mais informações sobre a doença podem ser encontradas no site: https://www.dengue.org.br/ . No portal, também existe material em libras para pessoas surdas (SSR).

Veja também no Blog Cidadãos do Mundo:
11/12/2012 -Doenças raras e negligenciadas: o direito à informação
24/08/2012 – Coleta e tratamento de esgoto: como será quando chegarmos a 2050?
08/09/2010 – Precisamos nos reconhecer sul-americanos (II)
20/02/2010 – Dengue: prevenção não pode ser sazonal

*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk

Reflexão: Na pulsação da Pachamama “andina”, por Sucena Shkrada Resk
29/03/2013 15:12
“Pachamama”. Palavra vigorosa forjada na América “andina”, por meio da sabedoria tradicional dos povos indígenas e campesinos, traz um simbolismo importante de pertencimento e respeito à “Madre Tierra” ou à “Mãe Terra”. Essa metáfora materna e feminina nos leva à ideia da fecundidade, fertilidade, da gestação, da benevolência e dos veios sanguíneos da vida, numa ligação de bem-viver. Uma Terra cuidadora e ao mesmo tempo, que deve ser cuidada. Desde os tempos pré-incas, esse conceito se perpetua, envolvendo povos quéchua y aymara, entre outros. É o mito que se funde à realidade na ligação com a vida e aos princípios elementares da terra, água, ar e fogo e à reverência à natureza, à vida, à espiritualidade e ao cosmos.
Costumes e ritos se fundem na interpretação de diferentes povos andinos nessa relação de significados e ressignificados. Segundo a literatura à respeito, o “Dia da Pachamama” é comemorado em 1º de agosto, em vários países (Bolívia, Equador, Peru e parte do Chile e da Argentina), por comunidades que fazem oferendas, com alimentos, bebidas, cigarros e cordeiros – o que pode parecer conflitante com os princípios socioambientais, mas que são fundamentados em uma cultura ancestral nessa região. A relação espiritual e religiosa também é incorporada nesse processo de integração, que teve o sincretismo, ao longo das décadas de colonização, como o culto à Virgem Maria (que recebe diferentes nomes, dependendo do país).
Mas existe algo mais profundo, que transcende a materialidade e as crenças específicas, nesse processo. Quando tive a oportunidade de conhecer os Andes, pela primeira vez, ao viajar para Machu Picchu, Cuzco, Ollantaytambo, Águas Calientes e Lima, no Peru, entre 1998 e 1999, senti na atmosfera que irradiava por lá, uma energia inexplicável, que me levou à imersão sobre o meu papel nesse mundo. Reflexão que tenho até hoje.
Durante a vivência nos Fóruns Sociais Mundiais, que participei desde 2009, em Belém e em Porto Alegre, os breves contatos que tive com os povos originários de nossos países vizinhos também me contagiaram de forma permanente. Eu me embebi em seus relatos, ao mesmo tempo, simples e complexos, sobre a nossa relação com o meio e com o outro. Sempre me emociono ao recordar da união de mais de 2 mil indígenas de várias partes do mundo e presenciar a assembleia, em Belém, em que os representantes latinos traziam em seus discursos essa sintonia com a “Pachamama”, como também no Fórum Pan-Amazônico, em Santarém, em novembro de 2010.
Em miúdos, fui cativada nesse processo de aprendizado. Isso me proporcionou em minhas andanças pelo Brasil, ao longo dos anos (durante férias, trabalho e ativismo), essa vontade incansável de querer aprender e me sintonizar com a natureza e com as comunidades locais. Tirar a manta de “forasteira” e me sentir parte de cada cultura e ambiente. Trocar energias e somar.
No ano passado, durante a viagem que fiz à Patagônia Argentina, em abril, mais uma vez esse sentimento de pertencimento à América do Sul e à América Latina veio à tona. O “filme” mental de imagens e contatos estão ainda perfeitos nessas recordações que mantenho sobre o percurso ao longo da Cordilheira, dos glaciares, de Perito Moreno e dos lagos andinos…Essa experiência me levou a mais reflexões de que somos parte de tudo isso, algo que transcende os limites da Terra e segue pelo universo.
Essa é a minha leitura sobre a “Pachamama”, que me aflora sensações, de tempos em tempos e se traduzem em novos sentimentos que me impulsionam a novos projetos de vida. Eu me vejo paulistana, brasileira, sul-americana, latino-americana e cidadã desse mundo sem fronteiras, que ao mesmo tempo me possibilita respeitar as raízes, mas me dá a liberdade de condor. Às vezes, me pergunto – será que tudo não passa de um sonho ou o sonho é a realidade nessa relação metafísica?

crédito: Sucena Shkrada Resk

Fórum Social Mundial, em Belém, em 2009: povos indígenas

Veja outros artigos que escrevi sobre esse tema no blog:
31/07/2011 – Um diálogo com a Ecosofia
03/05/2010 Educação ambiental: o saneamento é um elemento básico
21/02/2010 1Pensata: Da ‘Pachamama’ ao ‘avatar’

*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk

Um olhar sobre a Venezuela megadiversa, por Sucena Shkrada Resk
26/03/2013 17:19
Ampliar a leitura sobre países vizinhos ao Brasil na América do Sul, é um exercício de aprendizado interessante. No caso da Venezuela, conhecida mundialmente pela figura de seu ex-líder Hugo Chávez, que faleceu recentemente, e por ser uma potência petrolífera mundial e extrativista de minérios, tem um patrimônio biodiverso, em constante ameaça, relevante para o mundo, algo que pouco é aprofundado. O país figura na lista dos 17 países megadiversos do planeta, que exibe um ecossistema amplo (amazônico, andino, caribenho e atlântico) e mais de 140 mil espécies (conhecidas) de fauna, flora, microorganismos, entre outras categorias.
A região leste e a bacia de Orinoco venezuelana(onde há exploração de petróleo) integram a Pan-Amazônia junto a áreas da Bolívia, do Brasil, da Colômbia, do Equador, da Guiana, do Peru, Suriname e da Guiana Francesa. Isso faz com que sua importância se torne ainda maior para a conservação socioambiental da região e no enfrentamento das mudanças climáticas. Além da área continental, o país ainda é composto por quase 320 ilhas, o que o caracteriza ainda como uma importante referência de ecossistema marinho.
Atualmente a Venezuela mantém parques nacionais, monumentos naturais, reservas da biosfera, refúgios, reservas de fauna silvestre e parques recreativos, que totalizam cerca de 160 unidades de conservação. Segundo o Governo, cerca de 60% do território está sob algum tipo de proteção ambiental.
Essa exuberância natural, entretanto, está sob ameaça principalmente da ação humana decorrente do próprio modelo de desenvolvimento econômico extrativista, que se acentua desde a década de 30.
Apesar de manter uma legislação ambiental, desde 1965 (Lei Florestal de Solos e de Água) e a Orgânica do Ambiente, a partir de 1976, algumas das causas desse descompasso seriam atribuídas a situações que envolvem contrabando, mineração ilegal… e imigração ilegal, como é relatado nas considerações finais do artigo “Entre a norma e a prática: A questão ambiental na Venezuela”, da Doutora em Sociologia, pela Universidade de Brasília – UnB, Doris Aleida Villamizar Sayago, nos anos 2000.
O petróleo é extraído principalmente do Lago Maracaibo e responde por cerca de 80% das exportações. A Venezuela, por esse potencial, é o único país do continente, membro da Organização dos Países Produtores e Exportadores de Petróleo (OPEP).
As contaminações e problemas de saneamento ambiental ainda são outros aspectos apontados por estudiosos e ambientalistas a serem enfrentados no país.

Esse processo de mobilização começou simultaneamente às legislações na área, nos anos 70, quando se deu início à criação de organizações socioambientais e de iniciativas de educação ambiental. E nos anos 80, foram instituídos os Planos de Ordenação Territorial. Já em 99, com a nova Constituição, ficou definido que o Estado desenvolveria a política de ordenação do território, atendendo às realidades ecológicas,geográficas, populacionais, sociais, culturais, econômicas, políticas de acordo com as premissas do desenvolvimento sustentável”
Em junho do ano passado, a Venezuela ficou em 18º lugar no ranking (-0,3) de Índice de Riqueza Inclusiva (IRI), que avalia o crescimento sustentável anual per capita do mundo criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), novo indicador de sustentabilidade, que tem o componente ambiental. No primeiro ficou a China (2,1).
A Venezuela, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), afirmou que promove o eco-socialismo e apoia o desenvolvimento de tecnologias limpas, aplicada à indústria de hidrocarbonetos. O objetivo seria diminuir o seu impacto ambiental, como é o caso da utilização de gasolina mais limpa, o uso prolongado de gás, além da aplicação de tocologia HDH + em refinarias venezuelanas (a eliminar a produção de coque de petróleo). A matriz energética no país é em 70% oriunda de fonte hidrelétrica e depois do gás.
Outras iniciativas venezuelanas importantes, segundo dados disponibilizados na Convenção da Diversidade Biológica, em 2010, seriam investimentos no sistema nacional de áreas protegidas do país, que previnem a sedimentação que, de outra forma, poderia reduzir ganhos oriundos da exploração agrícola em aproximadamente US$ 3,5 milhões por ano.
PRESSÃO CONSTANTE
Segundo a Conservation International (CI), a região dos Andes tropical da Venezuela está entre as que mais sofrem pressão no planeta (hotspot*). O Corredor Norte de Conservação dos Andes que segue à Colômbia, é um motivo de preocupação dos especialistas.

Algumas das áreas estratégicas, por apresentarem espécies endêmicas, ficam na região sul do país – Guianan – localizada entre os rios Orinoco e Amazonas; e na bacia do rio Caura. Nesse trecho do país, vivem anuros (anfíbios), que só são encontrados nessa região do planeta..

No Parque Nacional de Canaima, fica a Angel Falls (979m), considerada a cachoeira mais alta do mundo. Esse salto proveniente do rio Churún desde o Auyantepui, no Estado de Bolívar, fica próximo à fronteira Brasil-Guiana. E o ponto mais alto do país é o Pico Bolívar, com 5.007 metros.
O contexto de geração de energia no país está interligado à importância da conservação da biodiversidade. A Barragem de Guri, na região de Paragua, que fornece a maior parte de energia elétrica na Venezuela, está em uma bacia desprotegida, segundo levantamento da CI.

Nesse rico ecossistema, povos indígenas Ye’kwana e Sanema tentam sobreviver diante da pressão do desenvolvimento. Outra etnia importante venezuelana é a dos yanomâmis, que também vivem no Brasil, o que estreita a relação fronteiriça entre os países.
Recentemente, em fevereiro, um grupo de 12 comunidades indígenas fez reféns militares (depois libertados), em uma região de mineração no sudoeste do país. O grupo condicionou a libertação à anulação de um decreto que outorga ao Estado a administração da exploração de ouro, entre outras reivindicações de preservação de territórios indígenas. Como no Brasil, os aborígenes defendem seu direito de consulta. Outro episódio, em dezembro de 2012, foi o de um grupo exigir de volta uma pedra (kueka) retirada há 14 anos de um parque nacional, que está exposta em Berlim.
As estratégias para diminuir os impactos sobre os ecossistemas do país, segundo a organização ambientalista, é de se promover o incentivo à manutenção de hortas orgânicas, cultivo de plantas com funções fitoterápicas, além de apoio do ecoturismo com base comunitária. Nesse sentido, o exemplo, de acordo com a CI, é a Rota del Quinó, na Sierra Nevada e parques nacionais.
MONTE RORAIMA

Divulgação

Mas sem dúvida, entre as características ambientais singulares venezuelanas, está o Monte Roraima ou Tepui (devido ao seu formato de mesa), que fica na área de tríplice fronteira com Brasil e Guiana. Esse grande maciço rochoso é de tirar o fôlego e um dos lugares mais antigos da Terra. No trecho venezuelano, a escalada é de 1,7 mil m e chega a ser feita em três dias (de acordo com agências especializadas), mas seu ponto mais alto é de 2.734 metros de altitude . A subida começa nas proximidades da aldeia indígena Paraitepui. Na área, também se encontra o Vale dos Cristais, com grande quantidade de quartzo e poços naturais, que remetem a um cenário lunar.
Basta dizer que O Mundo Perdido, do escritor Arthur Conan Doyle, de 1912, foi inspirado nesse destino amazônico, como também, UP – Altas Aventuras, da Disney-Pixar, em 2009 .
Essas e tantas outras riquezas venezuelanas são desconhecidas e revelam o quanto há a se valorizar nesse país sul-americano.

Glossário:
Hotspot*: área prioritária para conservação, com alta biodiversidade e ameaçada no mais alto grau (com pelo menos 1.500 espécies endêmicas de plantas e que tenha perdido mais de três quartos de sua vegetação original). O conceito foi criado pelo ecólogo inglês Norman Myers, em 1988. Fonte: CI.

IRI*: O indicador aplica informações referentes ao capital humano, natural e manufaturado de 20 países para mostrar um panorama mais amplo que o PIB (Produto Interno Bruto). Fonte: Pnuma.
*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk

Água “pura”…quero ver-te, por Sucena Shkrada Resk
22/03/2013 21:53

Fonte de imagem: FAO

Olho para o céu e sei que lá estão os “Rios Voadores”. Ao ler a explicação de Gérard e Margi Moss sobre o projeto de mesmo nome (https://www.riosvoadores.com.br/o-projeto/rios-voadores) penso o quanto do intangível há no tangível, quando se trata do tema água, que já é identificado como “ouro azul”, desde o século passado. Esse mesmo processo se dá com o conceito de “água virtual”*, que revela o que não conseguimos enxergar em parte na pegada hídrica (https://www.pegadahidrica.org/?page=files/home) da humanidade. Quando relegamos a segundo plano, o valor dos aquíferos ou melhor, desconhecemos por completo sua importância, só agregamos mais desconhecimento e inoperância…”. E ao nos depararmos com esgoto a céu aberto, acentuamos o ciclo baseado na inação.
Com o pensamento em longo prazo, os cenários se tornam mais turvos. Em 2030, quase a metade da população mundial poderá enfrentar escassez de água. A afirmação do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon só reitera o sinal vermelho há muito tempo dado à condução de nossos caminhos atuais no planeta. Somos mais de 7 bilhões de seres humanos espalhados por diferentes regiões do globo e estima-se que praticamente 4 bilhões não têm água encanada (tratada). Nessa matemática da escassez, anualmente 3,5 milhões de pessoas morrem por doenças causadas pela falta de água potável, de acordo com dados da ONU-Água.
Os números parecem frios diante de tantas vidas comprometidas, não é? E o fato de 2013 ser o Ano Internacional de Cooperação pela Água e estarmos vivendo a Década Brasileira da Água, desde 2005, não modifica uma realidade indiscutível. Essa é uma agenda “infinita” para a humanidade, pois basta um argumento: sobrevivência.
Os pesquisadores holandeses Arjen Hoekstra e Mesfin Mekonnen, da Universidade de Twente, divulgaram neste mês, cálculos sobre a pegada hídrica individual no contextos de países pobres, em desenvolvimento e desenvolvidos. Enquanto, no Congo, por exemplo, é de 552 m³/ano, no Brasil é de 2.027 m³/ano e nos EUA, 2.842 m³/ano.
Nessa desigualdade de consumo e acesso, há também o componente climático e as situações mais aflitivas são vividas em países como Bahrein, Qatar, Kwait, Líbia, Djibouti, Emirados Árabes, Iêmen, Arábia Saudita, Omã e Egito, no Oriente. Esses dados foram divulgados pela consultoria britânica Maplecroft, no ano passado. Ironicamente essas nações ricas em petróleo sofrem com o risco de escassez de um bem maior. Algo para se pensar, não é verdade? Afinal, já ocorrem guerras por causa desse “ouro negro” e nas últimas décadas existe uma outra guerra. Nesse caso, pelo “ouro azul”.
O documentário canadense “Ouro Azul: A Guerra Mundial pela Água”, de Sam Bozzo , que teve como fonte de inspiração o livro Maude Barlow e Tony Clarke, é um retrato dessa situação
O PROBLEMA SÓ SE ACENTUA
Todos os anos, chega o dia 22 de março e inúmeros artigos, reportagens, relatórios são divulgados sobre a situação da água localmente e no planeta. Quase como um filme reprisado há o alerta sobre os perigos que emergem entorno da escassez, do desperdício, da contaminação e das condições climáticas. A situação se agrava por uma complexa rede de causas: mau uso pela sociedade, má gestão pública e incompetência ou ausência de boas práticas empresariais. A tudo isso se agrega um fator importante e que não pode ser desprezado: a densidade demográfica aumenta anualmente no mundo e a pegada hídrica, por sua vez, também.
Nessa síntese da desigualdade, existe mais um elemento subdimensionado, que é o descompasso presente na sensibilização da população diante do problema. Nas grandes metrópoles, geralmente parte de nós nos vimos confortáveis com a água saindo da torneira, do chuveiro, com raros momentos de racionamento. Aquela falsa sensação de que nunca seremos pegos de surpresa pela ausência da água é recorrente. Só que também nas metrópoles, entretanto, nos bairros mais periféricos, essa iminência da falta é algo que faz parte do cotidiano.
Quando partimos para a regionalização (Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte) no contexto brasileiro, começamos a perceber que o senso comum de percepção sobre o sofrimento de nordestinos, no semi-árido, perigosamente começa a ser visto como algo irremediável e, por muitas vezes, banalizado de forma grosseira por quem não vive na “pele” a estiagem e a seca. Ciclos intermináveis de soluções paliativas ou falta de empenho nas mesmas parecem uma trilha sonora interminável de “desculpas”.
Aquela visão quase caricatural de que no Norte do país, os rios são caudalosos o tempo todo também começa a cair por terra aos poucos. Nas demais regiões também há esses ciclos de “estiagens” cada vez mais prolongados.
Quando falamos sobre “água”, em qualquer ângulo, simboliza o principal condutor da infraestrutura. Está na base de um município, de um estado ou país e de nossas vidas. Na política de saneamento que está interligada com saúde, educação, transporte (hidrovias), agricultura, meio ambiente, alimentação, indústria e comércio…
Com todo esse repertório, não é preciso ir muito longe para se buscar novos caminhos para combater a inércia exaustiva, que faz vidas serem minadas e corpos sucumbirem. Morrer por causa da falta de esgotamento sanitário, pela presença de elementos químicos contaminantes nas águas ou pela ausência da mesma é sinal de que novos significados devem ser dados à palavra desenvolvimento no século XXI, para que não sejamos falaciosos e coniventes com esse ciclo perverso, que envolve a apatia ao que é essencial ao que tanto almejamos: qualidade de vida.

Glossário:
Água virtual*: conceito criado por John Allan em 1993, que representa o cálculo do total de água utilizado na produção de qualquer bem de consumo, desde matérias-primas à distribuição final.

Veja também outros artigos que escrevi sobre o tema por aqui:
14/01/2013 Reflexão: a desertificação e o consumo inconsciente
03/12/2012 Educomunicação:memória e resiliência no enfrentamento dos eventos extremos
27/08/2012 No contexto das nove fronteiras,
30/07/2012 Quanto da Mata Atlântica matamos dentro e fora de nós?
29/06/2012 Pós-Rio+20: ao sair da bolha, o trabalho continua
07/06/2012 – Rumo à Rio+20: o valor oculto da água
23/05/2012 Nota: Saneamento está interligado a outras infraestruturas
22/03/2012 – Campanha A Água e a Segurança Alimentar
02/03/12 – A importância da discussão da água na Rio+20
15/02/12 Rumo à Rio+20: Foco da campanha Meu Sonho Verde
15/12/11 Nota: índice das cidades verdes destaca Curitiba
29/11/11 São Paulo 2022: uma recente contribuição para se pensar o próximo Plano Diretor
19/10/11 – Esgoto: o calcanhar de aquiles do Brasil0
9/11/11 Refletindo sobre o Estado do Futuro/Projeto Millennium
28/10/11 – Por dentro do saneamento básico
09/11/2011 Refletindo sobre o Estado do Futuro/Projeto Millennium
28/07/2011 Atenção às nossas águas
*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk

Costa Rica: exemplo de cultura de paz e socioambiental, por Sucena Shkrada Resk
19/03/2013 17:13

Geralmente o que nos atrai na hora da escolha de um roteiro turístico são as belezas naturais e as características culturais do destino. Mas o meu olhar para a América Central me leva a querer conhecer a Costa Rica, também por outra peculiaridade. O que chama a atenção nessa nação de 51.100 km2, localizada entre a Nicarágua, Panamá e os oceanos Pacífico e Atlântico, é o fato de que, desde 1948, não mantém forças armadas. Algo especial em um mundo com tantas zonas de conflito. Com isso, as possíveis despesas que teria com armamentos e pelotões seguem para programas socioambientais. Essa é uma característica destacada no Relatório de Desenvolvimento Sustentável Humano 2013 – Ascensão do Sul – Progresso Humano num mundo diversificado, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Ainda é prematuro afirmar, que a decisão costa riquenha, que vigora há quase 70 anos, torna esta nação um exemplo a ser seguido diante de um mundo predominante bélico, onde guerras civis e internacionais afloram em diferentes regiões (por diferentes contextos históricos). Entretanto, é indiscutível que sua iniciativa inspira a cultura de paz e merece mais estudos, relatos e escuta. Em 2011, diante da necessidade de preservar o território frente a zonas de conflito, o governo chegou a criar a polícia de fronteira, mas conserva sua política de segurança nacional.
Em 2012, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Costa Rica subiu para 0,773 contra 0,621. Analistas consideram que a prioridade de recursos do governo dirigida às áreas social (educação e saúde) são fatores importantes nesse novo cenário. No mundo atualmente, são cerca de 20 nações que seguem o exemplo costa riquenho de não manter forças armadas, mas muitos deles dependem de auxílio externo para a segurança nacional.
POLÍTICA SOCIOAMBIENTAL
O capital ambiental da Costa Rica e a condução das políticas locais a respeito também não passam despercebidos. O país mantém um Conselho Presidencial Ambiental (composto somente por representantes do Executivo), que apresenta na agenda quatro metas principais, que são o ordenamento territorial, proteção dos recursos hídricos, neutralização de carbono e impulso às energias renováveis. Como em outros países em desenvolvimento, há uma preocupação com o planejamento urbano principalmente da grande área metropolitana e da província de Guanacaste.

Um dos objetivos divulgado pelo governo federal é que até 2021 haja a neutralização das emissões (hoje é responsável por 0,02% das emissões globais). Para isso, algumas medidas em curso são a redução de 5% do uso de combustíveis fósseis na frota de veículos e de transporte público, como também a reorganização do sistema. E a maior conquista costa riquenha é chegar a 95% de predominância de energias renováveis na matriz energética.
O ecossistema e a biodiversidade do país são elementos que são considerados estratégicos nas políticas públicas. Um país com florestas tropicais úmidas, cordilheiras e planícies costeiras também exibe em sua rica geografia vulcões. E poucos sabem que o país concentra a maior quantidade de espécies de orquídeas do planeta (mais de 1 mil), além de uma fauna diversificada.
A evolução da recuperação da vegetação vem num quadro ascendente nas últimas duas décadas. Estima-se que hoje existam mais de 50% de matas contra 25% naquele período e a meta é que chegue a 65% por volta de 2021. Alguns dos dispositivos utilizados no país são o pagamento a proprietários de floresta que preservam as áreas, e a criação de um imposto sobre o consumo de petróleo. Em 2011, também criou a Área Marina de Manejo de Monte Submarino (no Pacífico), que é considerada a maior da região, depois de Galápagos.
Por esse conjunto de ações, a curiosidade aumenta e faz com que enxerguemos esse pequeno país em suas potencialidades.

*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk

A métrica da felicidade na agenda “sustentável”, por Sucena Shkrada Resk
18/03/2013 16:38
Quantas vezes observamos a menção da palavra “sustentabilidade”, como um mantra? Inúmeras, não é? E cada uma soa como se fosse um álibi ou a saída estratégica para tudo que dá errado no antagônico regime capitalista em que vivemos. Mas ao nos aprofundarmos em sua gênese e propósito, reacendemos um questionamento central: a sustentabilidade ideologicamente e na prática, está relacionada ao conceito de felicidade (que tem o componente subjetivo)? A resposta que emerge, de forma cada vez mais presente, é que sim. Numa forma bem simplória de analogia, poderíamos dizer que é raciocínio lógico, tendo em vista, que a meta principal é o equilíbrio entre as balanças econômica, social e ambiental com o propósito de qualidade de vida.
O Relatório de Desenvolvimento Sustentavel Humano 2013 – Ascensão do Sul – Progresso Humano num mundo diversificado, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), neste mês, traz essa discussão. No documento, há o desafio de se definir uma métrica sobre o bem-estar e o progresso humano e como os mesmos podem ser inseridos nas políticas públicas.
Nesse exercício, são citadas iniciativas do Reino Unido, que começa a estudar indicadores subjetivos de bem-estar, que são sugeridos pelos pensadores Stiglitz, Sen e Fitoussi, no ano de 2009. Especificamente, em Londres, há o London Happiness and Well-being.
Da Europa ao Oriente, o exemplo é o Índice de Felicidade Nacional Bruto, do Butão, mais conhecido como Felicidade Interna Bruta (FIB) em contraposição ao Produto Interno Bruto (PIB). Amadurecido desde os anos 70, se baseia na constatação de que o objetivo principal de uma sociedade é associar o desenvolvimento econômico com o psicológico, cultural e espiritual em harmonização com o planeta.
A complexidade nisso tudo é quebrar o duelo entre o modelo predominante econômico de desenvolvimento e nossa relação subjetiva com o mundo, que transcende o consumo inconsciente e que está relacionada a culturas e histórias distintas, que são as marcas presentes, nos quase 200 países no planeta. Diante dessas constatações, os estudiosos chegam à conclusão de que os indicadores de bem-estar são complementares, contextuais e locais.
Um dos recortes avaliados no relatório é o de satisfação geral com a vida (uma avaliação de 0 a 10). Em pesquisas realizadas em 149 países, a média foi de 5,3 e o valor máximo registrado na Dinamarca (7,8) e o menor, em Togo (2,8). Ao ver essa disparidade, não é difícil entender que esses resultados tão distintos refletem a desigualdade entre os blocos de países desenvolvidos e em desenvolvimento e os países pobres.

ÍNDICE DE BEM-ESTAR NO BRASIL
O Brasil também caminha a essa incorporação da “felicidade”. Neste mês, foi divulgada a proposta do projeto para criar o primeiro índice brasileiro de bem-estar, uma parceria do Núcleo de Estudos da Felicidade e do Comportamento Financeiro da Fundação Getulio Vargas (FGV) com a rede social MyFunCity. Com o nome de Well Being Brazil Index, deverá ser iniciado em 2 de abril e lidar com a percepção de satisfação dos brasileiros em nível local, nos bairros, com relação a dez indicadores:

  • Clima e atividades ao ar livre,
  • Transporte e mobilidade, família,
  • Redes de relacionamento,
  • Profissão e dinheiro,
  • Educação, governo,
  • Saúde, segurança e consumo.

A proposta, segundo os organizadores, é que os dados sejam um suporte ao poder público e à iniciativa privada. De certa forma, interagem com algo que precisa de impulso no país, que são os diagnósticos participativos das Agendas 21. –

Como ferramentas de aplicação, serão utilizadas redes sociais e questionários com um total de 150 perguntas. A expectativa é que após 90 dias, sejam realizadas audiências públicas em importantes capitais, como Belo Horizonte, Brasília, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo. E em dezembro, haja o lançamento do índice.
O Instituto Akatu, agora, em março também lançou o resultado da pesquisa “Para você, o que é Felicidade?”, que foi feita com 800 entrevistados, em diferentes regiões do país, no ano passado. Uma das conclusões principais apuradas foi de que a maioria associa felicidade mais ao bem-estar físico e emocional e ao relacionamento social do que aos aspectos financeiros e de posse de bens. O conceito do ser fica acima ao do ter nesse comparativo, o que em tese, vai ao encontro das propostas da sustentabilidade.
Será que podemos vislumbrar mudanças consistentes à vista em um mundo com pegadas ecológicas, hídricas, da consumo e desperdício alimentar ainda tão grandes? Enxergar a beleza da longevidade com qualidade de vida?

Leia também no Blog Cidadãos do Mundo:
08/03/2011 A busca pela Felicidade Interna Bruta
23/11/2009 A felicidade construída pelo Butão
22/11/2009 EIMA7: saberes e proatividade regem o desenvolvimento sustentável

*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk

Um sentimento chamado saudade, por Sucena Shkrada Resk
08/03/2013 18:26
#Saudade. Essa é uma palavra que estará sempre presente na trajetória de qualquer um de nós. É a saudade de um período que nos marcou, de pessoas que partiram deste plano e foram importantes para nós, de amores que deixaram suas marcas e até de hábitos cotidianos que nos faziam bem, como receber uma carta de alguém querido. Isso mesmo…

Ver aquelas frases manuscritas, com a marca pessoal da pessoa, com requintes de detalhes, como se ela estivesse à nossa frente…Às vezes, com folhas secas, um fio de cabelo. Sim, saudades! De guardar essas mensagens com seus envelopes, dentro de uma caixa e volta e meia ir lá e recordar…E as centenas de registros de fotos ao longo da vida, que estão em nossos álbuns? É como assistir um filme, quando revisitamos esses arquivos.

Com a parafernália tecnológica, também fazemos nossos registros bem mais rapidamente, mas falta algo, essa liga com a simplicidade, com nosso DNA, nossa marca singular…

Se a memória mental nos falha, lá estão esses pequenos fragmentos perpetuados, enchendo armários – talvez, não tão prático, mas inebriando nossas memórias.

Hoje, ao abrir a caixa de correio, com o que nos deparamos: contas a pagar e propagandas que querem nos inebriar como consumidores. Está aí algo de que não terei saudades…

Nota – A garimpagem de pontos de logística reversa em SCS, por Sucena Shkrada Resk
24/02/2013 17:57
Qualquer um de nós tem o que podemos chamar de olhar cidadão e para isso não há hora marcada. Neste domingo, ao seguir para fazer compras domésticas, eis que me deparei com dois pontos de coleta de recicláveis, que recebem itens dos mais complicados ainda para nós, consumidores, conseguirmos entregar: lixo eletrônico e lâmpadas usadas, exatamente pelo fato de a logística reversa ainda estar incipiente no país, além de óleo de cozinha usado.

Então, segue a dica:
Em São Caetano do Sul, esses pontos ficam respectivamente na área externa do estacionamento da Leroy Merlin e do Carrefour, no bairro Santa Paula, em São Caetano do Sul, próximo à avenida do Estado.

Comunicação socioambiental: o trabalho de alinhavar a história, por Sucena Shkrada Resk
22/02/2013 20:11
As cronologias da história oficial e da não-oficial se fundem e se desprendem ao longo do tempo, quando tratamos da trajetória socioambiental. Geralmente o que nos ensinam formalmente está vinculado a documentos legais ou a grandes eventos de porte nacional ou mundial. Mas há um vasto universo de bastidores que costuram essas informações. Verdades, leituras, interpretações, como definir esse processo de apreensão de conhecimento e passá-lo adiante? Aí está o desafio permanente da comunicação socioambiental.

Com a experiência do dia a dia, o chamado pensamento complexo de Edgar Morin se torna uma das respostas cabíveis, para se fazer as conexões, em que há a objetividade e subjetividade nessa composição.
Ao falar da poluição veicular, por exemplo, podemos percorrer vários caminhos em uma matéria:

  • conceito científico (toxicidade das substâncias químicas, partículas finas, ilhas de calor…);
  • saúde ambiental (que envolve condições do entorno, de saúde pública – doença e retaguarda…);
  • fala de entes envolvidos – humanização (órgãos públicos, especialistas em saúde, em mobilidade urbana, cidadãos comuns) – o “on” etc.
    — estatísticos (grade comparativa);
  • dispositivos legais (municipais, estaduais, federais e tratados internacionais);
  • fiscalização;
  • contexto de mobilidade urbana;
  • macroeconomia (mercado automotivo)
  • pesquisas a respeito (poluição, saúde, inovação tecnológica, comportamento antropológico…)
  • contextualização comparativa dos efeitos da poluição veicular e do desmatamento nas mudanças climáticas;
  • efeitos de poluição de diferentes tipos de combustível;
  • alternativas – cases de mudança de hábito (ciclistas, carona solidária, …)

É um mosaico de referências possíveis de informações e de vivência que fazem parte de um único assunto e é enriquecido por uma linha que trafega no ontem, hoje e nas perspectivas futuras. Mas, por muitas vezes, caímos nas armadilhas de reportagens frágeis nesse diálogo contextual e isso faz com que o receptor receba “fragmentos” ou que o fato ou a informação seja “vendida” sempre como algo novo. Ou então, não há as chamadas suítes, que dão continuidade ao acompanhamento da pauta.

Por isso, no exercício comunicacional, hoje o que se constata é a falta de maior empenho na historicidade e na importância devida à memória, para que não nos tornemos facilitadores dos ruídos e da desinformação socioambiental.

Veja também no Blog Cidadãos do Mundo:
04/07/2012 – O pensamento ecologizado de Edgar Morin
13/01/2012 – Rio+20: O que fazemos com tanta informação

Conservação das zonas úmidas: Brasil tem 11 sítios de Ramsar, por Sucena Shkrada Resk
01/02/2013 21:25
Amanhã, 2 de fevereiro, será comemorado o Dia Mundial das Zonas Úmidas. Atualmente existem 2083 sítios distribuídos em 164 países, o que corresponde a 197.849.428 ha, segundo dados da Convenção de Ramsar, que entrou em vigor em 21 de dezembro de 1975.

Com o objetivo de conservação e uso sustentável dessas zonas úmidas, as partes contratantes da Convenção podem receber dois tipos de apoios financeiros. Um é o Fundo de Pequenas Subvenções (Ramsar Small Grants Fund) e o outro, o Fundo Zonas Úmidas para o Futuro (Wetlands for the Future Fund).

De três em três anos, desde 1980, são realizadas conferências das partes (COPs), para que sejam verificadas as implementações das diretrizes da convenção.

No Brasil, atualmente há um total de 11 locais, em 6.568.359 ha:

  • Parque Nacional Marinho de Abrolhos (BA);
  • Área de Proteção Ambiental da Baixada Maranhense (MA);
  • Ilha do Bananal (TO);
  • Lagoa do Peixe (RS);
  • Mamirauá (AM);
  • Pantanal Matogrossense (MT);
  • Parque Estadual Marinho do Parcel Manoel Luís…(MA);
  • Reentrâncias Maranhenses (MA);
  • Reserva Particular del Patrimônio Natural (RPPN) Fazenda Rio Negro (MS)
  • Reserva Particular do Patrimônio Natural SESC Pantanal (MT);
  • Parque Estadual do Rio Doce (MG)
    Fonte: Lista de Ramsar – https://www.ramsar.org/pdf/sitelist.pdf

Como cidadãos (ãs) conscientes, podemos também exercer um papel fiscalizador e contribuir para a conservação dessas áreas. Aí entra o conceito do ecoturismo com todas as suas vertentes, que obviamente requer o exercício de educação ambiental constante.

Nos anos 90, conheci Abrolhos e algumas das imagens que ficaram marcadas para mim foram dos atobás e o cuidado que devíamos ter ao pisar sobre as pedras e caminhos, para que não pisoteássemos os ovos das aves. E o mar no entorno repleto de belezas subaquáticas foram mais uma linda lembrança dessa experiência, depois de viajar duas horas em lancha rápida de Caravelas para lá.

No Maranhão, conheci a região dos Lençois Maranhenses, em 2004. Também é algo inesquecível. Percorrer o rio Preguiças, que nos levam às dunas, foi um aprendizado que só me fez constatar o quanto somos agentes para que esses destinos possam ter sua perpetuação, como também as famílias ribeirinhas…

Saúde ambiental: alerta sobre a pneumonia química em Santa Maria, por Sucena Shkrada Resk
30/01/2013 15:06

Os resultados trágicos do incêndio na casa noturna “Kiss” na cidade de Santa Maria, no último domingo, 27, trouxeram à tona a necessidade de esclarecimento sobre uma doença que pouco era comentada até agora. É a pneumonia química, decorrente da inalação de gases altamente tóxicos (monóxido e dióxido de carbono, dióxido de nitrogênio e de enxofre e material particulado) e que pode ter seus sintomas instalados em até três a cinco dias após a ocorrência, de acordo com especialistas. Chiado no peito, tosse, falta de ar e, em alguns casos, secreções rosadas (com fuligens) e dor de cabeça são as manifestações mais comuns.

A recomendação é que as pessoas que tenham passado por essa exposição sigam ao atendimento médico para acompanhamento, após o incidente (o ideal antes da apresentação dos sintomas). A prevenção é uma forma de evitar que nos casos positivos, o quadro inflamatório, que desencadeia a lesão, e os danos físicos aos tecidos da estrutura pulmonar evoluam para uma situação mais grave, que pode resultar, inclusive, em morte. Os tratamentos a que os pacientes são submetidos envolvem desde inalações, adoção de corticosteroides e, em situação mais graves, antibióticos, entre outros.

Hoje, de acordo boletins oficiais noticiados à tarde pela mídia, mais 20 frequentadores da boate foram hospitalizados, pois apresentaram os sintomas. Há uma retaguarda médica para a possibilidade de novos casos.

O pneumologista Hermano Albuquerque de Castro, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), em entrevista à Agência Fiocruz de Notícias, esclarece que exposição também a solventes, entre outros produtos químicos podem desencadear a doença. Outras patologias podem estar associadas, como quadros hipertensivos e estresse pós-traumático.

Veja também no Blog Cidadãos do Mundo:
29/01 – Menos de cinco minutos

Menos de cinco minutos, por Sucena Shkrada Resk
29/01/2013 11:13
Um domingo tenso e triste que se estende. Assim ficou marcado o dia 27 de janeiro de 2013 e essa semana. A tragédia em Santa Maria, no RS, preenche um espaço de tantos questionamentos, que fica difícil priorizar outras questões, pelo menos, agora. O que não sai de minha cabeça é que em menos de cinco minutos os destinos de 239 jovens (número atualizado em 28/02) foram abruptamente interrompidos e 21 permanecem internados em estado grave. Tudo isso, por quê? Um conjunto de erros, negligência e ignorância que só trouxe à tona a fragilidade dos sistemas de autorização de funcionamento de estabelecimentos de uso público – não só danceterias, mas de cinemas, teatros, magazines, mercados…Afinal, são 5.570 cidades e milhares de espaços e quantos realmente atendem às regras de segurança?

Monóxido de carbono, dióxido de carbono e outros gases entraram no organismo da maioria dos estudantes que estava lá e cravaram o fim de seus destinos. O contato do fogo com a espuma do revestimento (segundo noticiado) resultou naquela fumaça preta altamente tóxica. A combinação com o ambiente confinado se configurou como uma sentença de morte. Nesses breves momentos o que pensaram e sentiram esses jovens? Será que as autoridades, os empresários, os músicos da banda pensam sinceramente nisso?

Foram abreviadas as vidas de Alan, Alex, Ana Paula,…Cássio, Carolina, Letícia, Maicon…, Viviane, Walter…231 pessoas com histórias de vida, anseios (https://www1.folha.uol.com.br/especial/2013/tragediaemsantamaria/vitimas.shtml#A). Por mais que tentemos nos colocar no lugar de seus familiares, certamente é impossível ter a noção real do momento difícil que vivem. Alguns até agora estão em estado de choque e não acreditam no que aconteceu. Pelotões de voluntários – em especial da área de psicologia – são convocados para ajudar essas famílias. Há pais que perderam todos seus filhos…Mais de 100 deles estudavam em uma única universidade – a Federal de Santa Maria. Imaginem a atmosfera por lá…E quase 40 eram de uma única turma, que nunca irá se formar. Uma sala vazia de sonhos e de vidas no reinício do ano letivo.

Outra vez surge o questionamento: por quê? Se as regras existem, quanto à exigência de planos de emergência, contingência, que envolvem adequação das instalações com portas de emergência de acordo com demanda de público; sinalizações e materiais não-inflamáveis, sistema de ventilação…, extintores de incêndios, hidrantes, mangueiras, registros, chuveiros automáticos (sprinklers) e escadas com corrimão, preparação do corpo de funcionários, manutenção de brigadas de incêndio e obviamente manutenção dos equipamentos…Então, por que tantas pessoas morreram? Por que havia uma única porta (entrada e saída)? Porque aquele local como tantos outros no país parecia mais um cofre e estava aberto?

E como justificar que tenham sido acesos sinalizadores num ambiente fechado, sendo que no próprio produto, há a orientação de que não podem ser acionados nesse tipo de ambiente? Qual justificativa?

Frações de minutos foram de extrema tortura àqueles jovens e é algo que corroi e anestesia. O que é possível dizer a mais? Muitos ficaram empilhados nos banheiros , como descreveu o comandante dos bombeiros às emissoras; outros se pisotearam ou acabaram sucumbindo no meio da tentativa de fugir daquele cenário de pânico. Uma cena dantesca…Como apagar isso da memória? Quando os corpos foram retirados, celulares tocavam ao lado dos corpos inertes no ginásio esportivo da cidade. Familiares aflitos do outro lado mal sabiam que não teriam mais resposta.

Ao ver os velórios coletivos, aquela angústia da procura pelas vítimas em hospitais em Santa Maria e região…Algo difícil de descrever. Nem sequer a possibilidade de sensacionalismo sobre esse fato dava para encobrir tamanha tristeza. Agora, famílias enterram seus mortos e outras se agarram à fé e esperança para que seus entes queridos sobrevivam e saiam do coma induzido. E em alguns casos ainda, numa segunda etapa, consigam se recuperar psicologicamente e fisicamente de queimaduras (algumas das vítimas encontram-se nesse quadro).

A solidariedade de milhares de brasileiros e de cidadãos de outros países é algo positivo diante de tanta dor e se manifesta de diferentes maneiras. São voluntários que ajudaram e ajudam no salvamento, atendimento psicológico, médico, na preparação de alimentos para as famílias que foram ao ginásio reconhecer e velar seus mortos, como nos enterros. Outros se dispuseram a doar sangue, depois do apelo feito pelas autoridades, uma necessidade que deverá durar por semanas. E palavras de consolação, ombros amigos ou orações se multiplicam por todas as partes.

Mas apesar disso, algo mais emergente foi sinalizado por essa tragédia: é preciso apurar, punir e haver fiscalização e cobrança de regularização, não só em Santa Maria, mas por todo país. E mais – a criação de um projeto de lei a respeito de âmbito federal. Até hoje não há. Estamos no ano de 2013, não é tempo suficiente para isso? Ou esperaremos mais um século?

Nos noticiários, nesses dias que se sucedem a essa carnificina, falam do efeito dominó de fiscalizações em “casas noturnas” em vários estados ou de planejamento para tal. Mas será que essas ações serão, de fato, efetivas ou tudo voltará daqui a pouco ao que era? Se constataram tantas irregularidades, quer dizer que elas já estavam instaladas há muito tempo.

O que é incabível para o mínimo de senso ético é observar que alguns tomam iniciativas com preocupação principal voltada à imagem da segurança do Brasil para a Copa, no ano que vem. A preocupação primeira tem de ser a vida de cada cidadão e cidadã deste país. Sem esse princípio, tudo se torna vão e por força de analogia: efeito de pirotecnia.

Foto-legenda: Pulmão verde urbano, por Sucena Shkrada Resk
16/01/2013 17:35

Expira, inspira…Quantas vezes ouvimos essa recomendação do médico, do professor de ginástica e de nossa própria consciência, quando conhecemos melhor a potencialidade de nosso corpo e de sua relação com o meio? Só que fazer isso se torna cada vez mais difícil em centros urbanos repletos de ilhas de calor e de poluição com o desenho do seu traçado marcado pelo concreto, pela impermeabilização…Daí quando conseguimos observar o verde da vegetação com toda a exuberância, demonstrando que a fotossíntese ocorre e a vida está lá pulsando, com resiliência às adversidades, vale a pena registrar. Esse exemplar (à frente) e os demais estão no canteiro central ao lado da linha de bonde, na avenida principal de Campos de Jordão, em SP, e registrei no final de dezembro.

A foto está na página do Facebook do Blog Cidadãos do Mundo –
https://www.facebook.com/BlogCidadaosDoMundoJornalistaSucenaShkradaResk?ref=hl#!/photo.php?fbid=463785203685766&set=a.391993447531609.91834.391963654201255&type=1&theater

Reflexão sobre o aumento do custo de vida e o consumo sustentável, por Sucena Shkrada Resk
16/01/2013 13:08

Como não vivemos em uma bolha, acredito que muitos de nós têm percebido o aumento de preços nas gôndolas dos supermercados, nas feiras, nas padarias…enfim, no comércio e sentido literalmente no bolso. Sim, o custo de vida aumentou e muito e o que é mais delicado – afeta os gêneros de primeira necessidade – a cesta básica e outros itens importantes, como os medicamentos. A aceleração da inflação é uma realidade e a pesquisa de preços é mais que necessária junto ao consumo consciente. Acredito que esteja bem acima da faixa dos 6%, como tem sido anunciado, diante dos aumentos.

Isso me lembra anos atrás, quando víamos remarcações, quase que diárias, enquanto os salários ficavam cada vez mais defasados. Entre os itens que mais subiram, dos não-perecíveis, estão o arroz (na faixa de R$ 10 para cima – 5kg), feijão, carnes e os hortifrutigranjeiros têm oscilações muito altas. É quase uma maratona encontrar os dias de promoções e a peregrinação em diferentes locais.

Segundo a Fundação Procon, a cesta básica média do paulistano em dezembro de 2012 custava R$ 377,26, acima da média da inflação. É só fazer a conta: o salário mínimo era R$ 622 e passou para R$ 678 (reajuste de 9%).

Bem, onde quero chegar com essa reflexão? Que a realidade é de tempos difíceis e cada vez mais emerge a necessidade do equilíbrio entre economia, meio ambiente e o aspecto social. E que a cultura do desperdício tem de ser eliminada. Já na fase da colheita é desperdiçada cerca de 11 mi toneladas, segundo pesquisa feita pelo Instituto Ethos. Nessa cadeia, 30% da comida que para no lixo são no contexto das feiras-livres e dos Centros de Abastecimento (Ceasa), de acordo com levantamento do Centro de Agroindústria de Alimentos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

E nós consumidores? Compramos o necessário, fazemos a otimização de tudo, aproveitando cascas, por exemplo etc? Optamos por ter hortas caseiras ou coletivas? Ficamos atentos a esses aumentos – que podem ser abusivos? Fazemos pesquisas de preços? Há vários pontos que nos levam a reavaliar nosso papel…

Reflexão: a desertificação e o consumo inconsciente, por Sucena Shkrada Resk
14/01/2013 19:39
Quando se trata do tema “desertificação”, a integração de ações antrópicas e processos naturais refletem o processo de fragilidade presente em vários pontos do planeta. O certo é que a série histórica demonstra que se intensificam os eventos extremos a cada década. Tanto as secas como as estiagens se estendem por mais tempo e hoje cerca de 40% da superfície terrestre é suscetível à desertificação, onde vivem 15% da população do planeta e estima-se que 92% da água consumida seja na agricultura. Esse é o cenário do estado do mundo próximo à realização da 2ª Conferência Científica da Convenção das Nações Unidas sobre Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos de Secas (UNCCD), em Fortaleza, CE, entre os dias 4 e 7 de fevereiro.

A situação do Brasil – inclusive por causa de sua dimensão continental – é um exemplo claro de que é necessário melhorar a retaguarda de adaptação e mitigação (redução de danos), tendo em vista que enfrenta desde o ano passado, a maior seca em quatro décadas. Vale registrar: desde o século XIX já existem registros a respeito. Não é um assunto de “ocasião”.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, atualmente 16% do território correspondem a áreas em processo de desertificação. Essa grande faixa de aridez corresponde a 1.488 municípios, onde vivem 31.663.671 pessoas. Praticamente 20% da população do país, ou seja, um quinto dos habitantes. O mais gritante é que o quadro está logicamente associado à pobreza e pelo menos oito milhões de pessoas se encontram nessa situação.

Com a instabilidade climática ascendente, pesquisas científicas associadas com o tema demonstram o aumento da vulnerabilidade. Em um dos levantamentos expostos no livro “Flora das caatingas do Rio São Francisco: história natural e conservação” (Andrea Jakobsson Estúdio), o professor José Alves Siqueira, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), de Petrolina, PE, ressalta esse aspecto no artigo“A extinção inexorável do Rio São Francisco”, que representa 70% da oferta regional de água. O trabalho é resultado de ações em campo entre 2008 e 2012, quando ocorreram 212 expedições.

Ao mesmo tempo, vimos anúncios do governo de previsão de investimentos cada vez mais altos nas obras de transposição do São Francisco. De R$ 4,5 bi já se prevê R$ 8,2 bi até o final. Até agora já estariam concluídas 43% das obras, segundo o Ministério de Integração Nacional. A obra iniciada em 2007, com previsão inicial de término em 2011, tem novo prazo: 2015. Recebe duras críticas de especialistas e é alvo de investigação do Tribunal de Contas da União (TCU). Tem sucessivos atrasos em diferentes trechos, alguns tiveram de ser refeitos e outros são “flagrados” parados. O que se prevê, se o projeto for cumprido, é o benefício a 400 municípios em quatro estados. Mas as tendências apontadas pelas pesquisas científicas não são de seu futuro desaparecimento?

A remoção da vegetação da Caatinga é mais um forte fator de pressão, como é destacado no livro “Desertificação e Mudanças Climáticas no Semiárido Brasileiro”, do Instituto Nacional do Semiárido (INSA/MCTI). As monoculturas e extração extensivas de recursos naturais se somam ao ciclo climático, que impulsionam o esgotamento.

Com tantos poréns calcados nas dúvidas quanto ao futuro em algumas décadas, é incontestável que a escassez e desperdício se retroalimentam no problema da desertificação brasileira. Os processos de irrigação são as principais ações de consumo de água, que até hoje não foram otimizados. O país figura como 4º colocado no ranking mundial, atrás de China, Índia e Estados Unidos, de acordo com o estudo americano da Hoekstra, veiculado na publicação National Academy of Sciences (PNAS), no ano passado.

Quais caminhos de política pública estão sendo adotados e o quanto terão de efeito “remediador”? Hoje foi lançada a Política Nacional de Irrigação, que em seu texto diz: … “…que o objetivo da nova lei é incentivar a ampliação da área irrigada no país, aumentando a produtividade de forma sustentável e reduzindo os riscos climáticos para a agropecuária.” …e a proposta é ampliar o crédito para obtenção de equipamentos com uso eficiente da água, modernizar instrumentos e implantar sistemas de suporte à irrigação. Mas uma questão importante a levantar: a legislação está associada à educação para o consumo sustentável? A algo mais amplo que é a pegada hídrica?

Mais um anúncio, às vésperas da Conferência das Nações Unidas, é da catalogação e difusão de métodos de convivência com o Semiárido e de minimização de efeitos de secas prolongadas, a partir de março, por meio do lançamento de projeto do Insa/MCTI em parceria com a Rede de Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), com o apoio do Ministério do Meio Ambiente (MMA). O público-alvo são agricultores nordestinos e de parte de Minas Gerais.

Difícil dizer o quanto essas ações terão efeitos significativos na vida das milhares de pessoas que sofrem com a seca. Isso, tendo em vista como o formato do modelo de produção e consumo brasileiro acompanha essas medidas. Aquecimento global, mudanças climáticas…cenário de savanização previsto pelo 4º Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas…São quadros instáveis que se concretizam dia a dia.
OS EXEMPLOS GLOBAIS

No outro lado do mundo, os eventos extremos também sinalizam tempos difíceis. A Austrália parece um caldeirão efervescente, com temperaturas acima de 50 graus. Nos últimos dias, por exemplo, um incêndio de grande proporção já causou danos no observatório australiano do espaço, na Nova Gales do Sul, entre outras regiões. Tempestades de “poeira” gigantescas são registradas no país.

Mais de 100 países sofrem com a desertificação mundialmente e desde 2010 vivemos na Década sobre Desertos e de Combate à Desertificação, instituída pela ONU. Mas o que se percebe, é que falta entrosamento dessa agenda com as decisões tomadas no âmbito da Biodiversidade e das Mudanças Climáticas. Sem essa postura, será difícil a construção de novos cenários mais positivos

Reflexão: Ir além do morde e assopra nas políticas socioambientais, por Sucena Shkrada Resk

09/01/2013 11:20

A implementação de políticas socioambientais no contexto federativo ao municipal é lenta e essa é a realidade. Não adianta colocarmos “panos quentes”, pois é isso que vivenciamos. Ao usar uma figura de linguagem, fica em muitas questões, no ritmo do “morde e assopra”.

Se formos avaliar o arcabouço legal extenso, que é composto por Lei de Crimes Ambientais, de Fauna, pelas Políticas Nacionais de Meio Ambiente, de Educação Ambiental, de Saneamento, de Recursos Hídricos, de Mudança do Clima, de Resíduos Sólidos, o Plano de Consumo Sustentável, pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), pelo Plano Nacional de Biodiversidade, o atual Código Florestal…além das legislações nos âmbitos estaduais e municipais…O que observamos? Muitas metas, diretrizes, no dia a dia não se consolidam.

A palavra planejamento carece de uma releitura. Basta analisarmos como está a implementação do Estatuto das Cidades. Quantos municípios têm seus planos diretores e quantos deles realmente têm a participação da sociedade?

Ler com atenção os resultados e as entrelinhas do Censo 2010 (tendo em vista que é um recorte), da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), da qualidade da educação… em conjunto com a nossa leitura de vida no cotidiano é uma boa maneira para nos colocarmos nesse quebra-cabeças.

Por que será que, muitas vezes, as legislações são consideradas inócuas? Num elenco de possibilidades, devido a questões básicas de gestão pautadas em concessões e brechas devido às “eternas” barganhas partidárias e à dependência de grandes corporações, que alimentam as campanhas políticas, como também à falta de regulamentação de muitas leis e à falta de “diálogo” com outros setores governamentais, como de agronegócios, transporte, energia, industrial.

Parece uma briga de titãs – em que o desenvolvimentismo tem mais peso e o conceito de interesse público fica fragilizado.

Com isso, o reflexo dessa dinâmica revela uma grande parcela da sociedade apática, porque nos bancos das escolas não interessa a essa cultura de poder que os cidadãos, desde a infância, se tornem – de fato e de direito – sujeitos políticos, com a carga de amadurecimento necessária.

Como fazer diferente? Não há outro caminho senão mudar esse mecanismo viciado, mas para isso, é preciso que cada um de nós se sinta um ente participativo e não, mero espectador.

Aí entra a rede de associações, em que as atitudes cotidianas são os princípios. Entender que a redução do consumo é desenvolvimento; que o equilíbrio do ecossistema e a diversidade de aproveitamento do solo significam produtividade, no seu sentido legítimo; que a conservação representa um valor agregado que incorpora todas as políticas socioambientais e a qualidade de vida a médio e longo prazos. E que economia – seja o nome que receba – verde, sustentável, inclusiva… – só existirá, quando tiver na sua raiz o capital humano e de conservação da vida (que engloba fauna e flora)…Nada é mais significativo que ver a crise global que vivemos. As lições transpõem os muros das escolas e nos chegam por todos os lados…

Atenção a histórias de vida sobre a luta em favor dos direitos humanos, por Sucena Shkrada Resk
08/01/2013 17:32
Nesta semana foi lançada a publicação Dez faces da luta pelos #direitoshumanos no Brasil(ONU, Embaixada do Reino dos Países Baixos, SDH e UE, 2012). É um material denso, com 101 páginas, no qual há entrevistas com dez personagens de diferentes localidades do país. O conteúdo é interessante, pelo fato de humanizar situações cotidianas, que ficam perdidas em estatísticas sobre a violência. Nos depoimentos, homens e mulheres contam suas trajetórias de lutas em favor do DH, que envolvem, em grande parte, conflitos socioambientais.

Os cidadãos ouvidos foram:

  • pescador Alexandre Anderson de Souza: trava uma batalha em favor da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro;
  • Guarani-Kaiowá Eliseu Lopes (MS)…em defesa do seu povo;
  • Evane Lopes: em defesa da comunidade quilombola de São Domingos e de outras quatro comunidades da região de Paracatu (MG), noroeste de MG…;
  • juiz Gleydson Gleber, da 3a Vara Criminal de Caruaru, uma cidade de 350 mil habitantes do Agreste pernambucano;
  • João Luís Joventino do Nascimento, da comunidade tradicional de Cumbe (CE) desenvolve sua luta para a preservação dos manguezais e da comunidade…;
  • Júlio César Ferraz de Souza: a favor da garantia do direito à moradia em Manaus (AM)…;
  • Leonora Brunetto: em defesa de trabalhadores e trabalhadoras rurais sem-terra…;
  • Maria Joel Dias: a favor da garantia terra, esperança e sustento para parte desses brasileiros que foram parar em Rondon do Pará;
  • Tupinambá Rosivaldo Ferreira Dias, o Cacique Babau: defensor dos direitos de seus povo, da aldeia de Serra do Padeiro, no município de Buerarema, nos arredores de Ilhéus, na BA…;
  • Padre Saverio Paolillo (italiano), mais conhecido no Brasil como Padre Xavier: milita a favor dos direitos da criança e do adolescente.

Comecei a ler essa obra, pois vem de encontro com os projetos jornalísticos que pretendo impulsionar em 2013. Algo que dá sentido e vigor a cada linha escrita, pois tem vidas palpitando por trás das palavras, e não fica circunscrito à institucionalidade.

Reflexão: Diferentes relações do ser humano com a natureza, por Sucena Shkrada Resk
04/01/2013 09:28
No último dia 31 de dezembro, ao conhecer o Borboletário de Campos do Jordão, considerei interessante a iniciativa de pesquisa e de educação ambiental, por estimular o aprendizado por meio da vivência e estímulos sensoriais, em uma atmosfera lúdica que envolve o ambiente no qual elas se desenvolvem e são estudadas.

Ao mesmo tempo, ao apreciar a natureza do entorno de Mata Atlântica conservada, próxima ao Parque Estadual de Campos do Jordão, observei como a ação humana no cotidiano pode destoar do propósito de uma integração harmoniosa. Sob a ponte do rio que corta a área, havia acúmulo principamente de objetos plásticos oriundos da área urbana da cidade. Um retrato que se multiplica em várias localidades brasileiras, reflexo de escolhas de como interagir com o meio ambiente…e que não podemos perder de vista, pois cada um de nós é responsável nesse diálogo do ser humano com a natureza.

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