Artigos – Ano: 2007 – Sucena Shkrada Resk – Blog Cidadãos do Mundo

Artigos-2007-Sucena Shkrada Resk – BLOG CIDADÃOS DO MUNDO

05/12/2007 17:45
Muito mais do que lucro financeiro, por Sucena S. Resk 
A tão aclamada sustentabilidade vai muito além das cifras bilionárias. O termo usado desde 1987, às vezes, se transforma meramente em uma fachada…Isso acontece, porque as ações necessárias para implementá-la são múltiplas e, simplemente, são ignoradas. Envolvem a gestão de pessoas, o meio ambiente, a chamada inter-relacionalidade com a cadeia produtiva, ou seja, expressam uma visão polissêmica, como define o consultor do UniEthos, Homero Santos.

O que vemos hoje no mundo é uma balança desigual que vai na contramão da sustentabilidade. “Se a população mundial fosse reduzida a um vilarejo com 100 habitantes, 6 pessoas dos EUA deteriam 50% das riquezas, 80% viveriam em condições de habitação sub-humana, 70% seriam analfabetos, 50% sofreriam de subnutrição crônica e somente 1% teria nível universitário”, diz o analista.

Santos questiona se vale a pena um PIB mundial de US$ 30 tri (ano 2000) para uma população de 6,6 bi de habitantes, contra US$ 600 bi/600 mi respectivamente em 1820, se ao crescer 5 x, se chegou a essa desigualdade. 
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23/11/2007 18:45
Se tudo isso fosse realidade…Créd: Sucena S. Resk-12/2007

Sucena Shkrada Resk | 

23/11/2007 18:29
O Natal nórdico na Terra Brasilis, por Sucena Shkrada Resk 

O cenário é bonito e atraente, mas nada mais é que o retrato da cultura nórdica que povoa o nosso caldeirão de diversidades. Ao me deter com mais cuidado nessa expressiva decoração natalina, nesta semana, comecei a refletir como um morador em situação de rua e uma criança abandonada se sentem ao passar em frente destes personagens coloridos e cultuados desde a infância, tão perto, em uma das avenidas mais famosas de São Paulo. Na verdade, é um universo encantador que foge drasticamente às suas realidades, em que a poeira se acumula sobre a pele, barbas e cabelos estão crescendo em desalinho e que corpos magros se contrastam com a robustez dos bonecos de neve e do velho conhecido papai-noel.

Nesse exercício, pensei nas inúmeras possibilidades que o dinheiro investido neste ornamento poderia ter. Por exemplo, cursos de capacitação, geração de emprego, cestas básicas…Talvez, com isso, esse universo lúdico tivesse mais sentido – o sentido da solidariedade, da isonomia de direitos, como integrar o que é considerado bonito e “alegre” aos olhos. Com isso, o faz-de-conta seria substituído por situações reais, que dariam a mesma sensação prazerosa, com bens tangíveis e intangíveis.
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16/11/2007 17:59
Como deter a criminalidade infanto-juvenil?, por Sucena S. Resk 
Hoje o poder público e a sociedade enfrentam um grande dilema. Como deter a criminalidade infanto-juvenil? O tema é latente, já que as chamadas medidas socioeducativas, em boa parte das vezes, foi equivocada no passar das décadas e resultou num problema que ninguém quer assumir, de fato. Em São Paulo, a antiga Febem se transformou no Casa e mudou o modelo de gestão recentemente, adotando unidades menores, para evitar as inúmeras superlotações e rebeliões que marcaram negativamente a instituição.

Daí surge mais um questionamento: deve ser mudado também o limite da maioridade penal? Uma corrente diz que sim, que aos 16 anos, o adolescente já tem condições de assumir penalmente suas infrações. Outros afirmam que não, com o argumento de que o sistema prisional, do jeito que é hoje, vai piorar a situação, já que a reincidência chega a 70%.

Diante de tantas dúvidas, o que de fato é mais coerente é o investimento numa educação básica de qualidade e promover o aumento de empregabilidade neste país. Mas os números são preocupantes. Das 13 milhões de crianças na faixa de 0 a três anos, somente um milhão tem acesso à creche.

Com a instituição do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), em 1990, pode-se dizer que houve um avanço no sentido de estabelecer os direitos legais, mas na prática a realidade é outra. Basta verificar os números. Hoje existem 15 mil adolescentes em sistema de privação no Brasil. Eles representam 0,2% da população nessa faixa de idade no país, segundo o representante do Conselho Nacional das Crianças e Adolescentes e presidente do Movimento Nacional de Direitos Humanos, o advogado Ariel de Castro Alves. Ele foi o convidado do curso de Jornalismo Social da Escola de Comunicação e Arte/Universidade de São Paulo (ECA/USP), desta semana.

Alves apresenta mais números, que pesam negativamente no quesito direitos humanos, resultado de levantamentos da Unicef, entre outras instituições. “Diariamente 16 crianças e adolescentes morrem vítimas de armas de fogo, 18 mil crianças são espancadas mensalmente e estima-se que 6 milhões de crianças são submetidas ao trabalho infantil, enquanto 500 mil sofrem exploração sexual”, afirma.

“Mas é preciso ficar claro que quem tem direito também tem o dever de respeitar os direitos dos outros”, diz. Segundo o especialista, um case interessante de condução de atendimento ao adolescente infrator é praticado no município de São Carlos, SP. “Lá existe uma articulação entre várias esferas no sistema do Núcleo de Atendimento Integrado (NAI). Os casos de reincidência chegam a 4%, enquanto no CASA, coordenado pelo governo do Estado de São Paulo, é de 22%. A estatística de homicídios praticados por adolescentes também teve um grande impacto na cidade do interior paulista, de acordo com o advogado. “Em 98 foram 15 e no ano passado não houve o registro de nenhum caso”, diz.

Determinar que um modelo de gestão é pior ou melhor que o outro ainda é prematuro. O certo é que efetivamente algo tem de ser feito para que conduções de casos, como o de Champinha, sejam evitadas. Que adolescentes com desvios de comportamento, problemas mentais ou não sejam realmente diagnosticados corretamente e, que sejam reabilitados, para que não se somem ao pelotão de criminosos, quando atingirem a idade adulta.
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11/11/2007 19:16
Aquecimento global, por Sucena Shkrada Resk
A sorte está lançada. Um aumento de 1,9 º C ou 6,4º C na temperatura média da Terra, que hoje é de 15º. A discussão acalorada faz parte da agenda do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que chegou finalmente ao consenso, de que a principal causa da instabilidade no planeta é de origem antrópica. Agora, a questão é saber quais nações, governos e sociedades, de fato, vão correr atrás do prejuízo, e reverter essas projeções estimadas até 2.100. Atualmente sabe-se que a temperatura já aumentou na faixa de 0,76º e ainda há poucas iniciativas consistentes para reverter esse problema. Se o quadro mais pessimista acontecer, o nível do mar pode ainda aumentar em 7m, e com isso, a sobrevivência será uma incógnita.

“O aquecimento global é acumulativo e não há exceção de que alguém escape das conseqüências”, afirma o integrante do corpo técnico do IPCC, o engenheiro agrônomo Carlos Cerri, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena/USP). O especialista foi um dos convidados do curso sobre Aquecimento Global promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo em parceria com o Instituto Ecoar, entre outubro e novembro deste ano.

Cerri explica que as intervenções do homem começaram principalmente na fase da Revolução Industrial. E os fenômenos climáticos se restringem à distância de 12 km da exosfera, que é chamada de troposfera. Os grande vilões, como todo mundo sabe, são o CO2, o metano e o áxido nitroso, oriundos da indústria e queima de combustíveis fósseis, da agricultura e das mudanças no uso da terra.

O Brasil junto à China, Índia e EUA – esse último responde por 30% das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) mundiais – figura como o 4º grande contribuintes da desestabilização climática, quando apontamos como causa principalmente o desmatamento, a agricultura, o transporte e o lixo.

Os números são assustadores. São mais de 240 mil ton de lixo produzidas diariamente no país e cerca de 88% desse total vai para aterros sanitários. Com isso, favorece a produção de gás metano, que é mais impactante que o de CO2. Outro dado alarmante é que o Brasil destruiu 70 mil km2 de florestas, só entre 2002 e 2005 e o desmatamento representa hoje 75% das emissões de GEE no país.

O Brasil só tem seu papel abrandado, quando se trata da matriz energética, que é predominantemente hídrica, ficando entre os 20 primeiros colocados no ranking global de produção de CO2, cujos os primeiros colocados têm como vilão, os combustíveis fósseis. Mas em qualquer uma das circunstâncias, o país está numa situação desconfortável. Pois ratificou o Protocolo de Kyoto, em 2002, e ainda pouco avançou em diminuir a emissão.

Agora, não dá mais para adiar o cumprimento da lição de casa. E cada um de nós faz parte desse processo. Já se foi o tempo da desculpa da alienação. As atitudes pró-positivas vão desde o não-desmatamento, o reflorestamento, a proteção dos recursos naturais, como os nossos mananciais, o manejo adequado do solo, a colaboração com a coleta seletiva e reciclagem até a alteração dos hábitos alimentares.

Seguem alguns cálculos interessantes. Segundo Luciano Araújo, do Instituto Ecoar, se uma pessoa diminuir em 30% o consumo de carne, durante um ano, deixará de emitir 40 kg de CO2 equivalente na atmofera, que é igual à emissão de um veículo à gasolina, após 570 km rodados. Esse raciocínio leva em conta todo o processamento da carne, desde a criação do boi na pastagem…Já ao deixar uma árvore sobreviver, ela conseguirá sequestrar num prazo de 30 anos, 1 tonelada de GEE.

“No setor de agronegócio, a integração lavoura-pecuária é o que há de mais moderno e eficiente para diminuir as emissões. Os plantis diretos, com mínimo de sulcos, evitam a degradação do solo, e uma solução para diminuir o impacto das criações de gado (227 milhões de cabeças) é o semi-confinamento”, diz Carlos Cerri.

E as mudanças têm de ir mais longe. Atualmente o mecanismo de Reduções Certificadas de Emissões (RCEs), que são comercializadas na Bolsa, também são tímidas no Brasil. Estima-se que mais de 200 projetos para crédito de carbono tenham sido apresentados até hoje. Entretanto, houve a aprovação de poucos, como o do Aterro Bandeirantes, em SP, de Nova Iguaçu, no RJ e um projeto de substituição de carvão mineral por vegetal de uma empresa mineira. Apesar de um número irrisório comparado ao universo, já é um começo. O importante é que as empresas e os governos se capacitem para tornar esses projetos com sustentabilidade.

A coordenadora do Instituto Ecoar, Miriam Duailibi, ainda analisa que se não houver um esforço conjunto, os resultados de reversão não acontecerão. Basta lembrar que EUA e Austrália não ratificaram o Protocolo de Kyoto. Nessa redução da emissão de GEE, as ações devem ser incisivas quanto à eficiência energética, à utilização de energia renovável, à descarbonização de combustíveis fósseis (por meio de sequestro) – que já é uma tecnologia adotada pela Petrobras – , entre outros.

“É previsto que o Etanol da cana ocupe até 10% da matriz energética nos transportes brasileiros até 2030. Isso representa 1,5 bi ton anuais a menos de gás carbônico”, afirma Miriam. “No campo das políticas públicas, as ações que podem contribuir positivamente são a permeabilização do solo, a adoção do reuso da água, de manutenção de contenção de encostas e recuperação de matas ciliares, além da coleta de água da chuva e adoção de aquecedores solares”, diz.

E a sociedade tem de se mobilizar, segundo a jornalista. Aí está implícita a necessidade de mudança de atitude, que pode começar com ações domésticas, como a economia de energia. As pessoas ao não utilizarem o modo stand by dos eletroeletrônicos, por exemplo, estarão economizando 9% de energia. Ao substituírem o carro pela carona solidária ou pelo transporte público ou pela bicicleta, ajudarão a emitir menos CO2. Essas são algumas posturas que podem fazer a diferença, se tornarem uma prática efetiva. 


Sucena Shkrada Resk | 



03/11/2007 14:29
Os bastidores do IDH, por Sucena Shkrada Resk 
Quando se fala em inclusão social, inúmeras teorias e projetos vêm à tona, como se fossem a solução de todas as mazelas mundiais. Mas nenhuma sociedade e governo conseguiram até hoje colocar a dosagem certa dos ingredientes, para que haja, de fato, a tão almejada isonomia de direitos. A prova está aí, com a desigualdade que ultrapassa décadas, não só, nos países subdesenvolvidos, como também, nos de “primeiro mundo”. Quando Amartya Sen, na década de 90, estruturou os conceitos de IDH, permitiu ao menos, que houvesse uma visão mais ampla do que é, de fato, prioritário na política pública.

“Toda a concepção de pobreza está ligada às necessidades básicas, e a boa ação pública não é só distribuir bens, mas ampliar as possibilidades e capacidade de escolha das pessoas, desenvolvendo seu lado crítico”, considera o pesquisador Jorge Kaiano, do Instituto Polis, convidado do ciclo de palestras do curso de extensão de Jornalismo Social, da ECA/USP, no mês de outubro deste ano.

Segundo o estudioso do Mapa da Exclusão de São Paulo, não existe cidadania sem informação adequada. Em sua opinião, o problema na sociedade morderna, principalmente brasileira, é o choque de competências entre as esferas municipais, estaduais e federal. “Com isso, têm dificuldade de saber qual é a responsabilidade de cada um diante as dificuldades de gestão. E fica o jogo do empurra-empurra”, diz.

Kaiano considera que a própria mídia não traduz o que é realmente eficaz na políticas sociais. “O papel da comunicação é fugir de discursos de intenções. O sistema capitalista produz exclusão o tempo todo. A cidadania não é concedida pelo Estado, mas é uma conquista. Mas o Estado pode ajudar ao indivíduo, mas não faz praticamente nada neste sentido”, afirma.

O IDH, de acordo com o pesquisador, tem como objetivo melhorar as condições de vida dos seres humanos. “As pessoas têm de se alimentar adequadamente, falar em público sem se envergonhar. Muitas pessoas não fazem o uso do direito de se expressar. A efetivação é difícil de conquistar, se está em condição de extrema pobreza e sem acesso à educação”, analisa. E é justamente aí, que o Estado tem de ser atuante.

Para Kaiano, cidadania significa ter o direito de ter direitos, por isso, pobreza, analfabetismo, injustiça social e degradação ambiental se contrapõem a essa proposta. Apesar de ser uma conclusão óbvia, é o retrato que vemos diariamente em várias localidades do planeta, ou a poucos metros de nossas casas. “Não existe desenvolvimento sustentável, sem desenvolvimento humano. Quando a gente fala, por exemplo, de humanização na área da sáude, isso quer dizer que cada um tem necessidade específica própria. Essa concepção é contrária ao clientelismo e assistencialismo”, afirma.

Diante desses recortes, o que se verifica é que desenvolvimento humano não se reflete no Produto Interno Bruto (PIB). “Nos anos 90, quando o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) instituiu o IDH, o Brasil estava numa lista de 130 países e configurava com um índice relativo de riqueza alto, mas com taxas sociais abaixo do que esse nível expressava. Portanto, o PIB percapita, mais esperança de vida e analfabetismo resultam em um país que não é pobre, mas injusto. Pode ser considerado um indicador perverso”, diz.


O Brasil está entre os países de desenvolvimento médio, na faixa de 0,792, sendo que os de desenvolvimento alto apresentam o índice acima de 0,800. “O sistema ONU teve a perspicácia de criar um ranking, mas que não traduz a realidade. Entretanto, é um meio interessante de despertar interesse das pessoas para o que está por trás dos indicadores”, considera o pesquisador do Instituto Polis.

Sucena Shkrada Resk | 



23/10/2007 17:25
Crônica – Onde está o olho no olho?, por Sucena Shkrada Resk 
Por onde andam as pessoas que olham a gente de frente e bem no fundo dos olhos? Como está difícil encontrar esse tipo ímpar de ser humano, que não sofre do mal da dissimulação e da máscara imposta por uma sociedade competitiva e, até certo ponto, doente, no quesito ética.

Bem diziam nossas avós, que os olhos não mentem. E com essa premissa, posso afirmar com convicção, que percebo no dia-a-dia, a ausência dessa qualidade em muitos seres humanos. Ditos intelectuais, colegas de profissão, políticos e outros títulos mais. Com o sorriso nos lábios e palavras doces, não disfarçam a falta de sinceridade, e ainda acham que enganam. Julgam-se superiores, espertos, inteligentes, mas nada mais são que sabedores de nada…

E, por mais incrível que pareça, esse quê de decepção com essa sociedade contaminada pela hipocrisia, pode ser atenuado, com um simples bate-papo casual em um ônibus travado com uma senhora dos seus 80 anos. E esse foi o motivo que me levou a escrever esse relato.

Hoje de manhã, ela seguia junto com seu filho ao hospital Beneficência Portuguesa, para acompanhá-lo em uma consulta. Essa senhora, com olhos claros, apesar de estar dentro de um microônibus, onde o ar condicionado estava congelante e havia pouco espaço entre as poltronas, conservava o semblante sereno e resignado.

Em poucos minutos, ela puxou conversa comigo e narrou os principais momentos que viveu com seu filho, desde o seu nascimento, há algumas décadas, quando o recém-nascido teve de se submeter a uma cirurgia inédita no país, relacionada ao intestino. E quem diz que essa mãe perdeu as esperanças? Que nada! Outros sustos a levaram ao hospital, quando o seu filho era garoto e adulto. Em uma dessas ocasiões, um diagnóstico errado quase foi fatal, mas ela não se deu por vencida. Liderou a busca por especialistas e encontrou uma equipe que deu esperança de vida ao seu filho.
A tristeza foi substituída por uma fé incontida. Da última vez, foram quase dois meses de UTI, aquela fronteira entre a vida e a morte. Mas no semblante desta senhora, a esperança de que veria novamente seu filho bem foi muito maior. E lá, estava ele, prestes a descer no ponto da avenida Paulista, acompanhado por sua mãe – ou melhor – anjo da guarda. Sem dissimulações, feliz, com sua fala mansa e sem medo de olhar lá dentro do olho da gente.
Esse flagrante da vida real demonstra que nem tudo está perdido. Há espíritos de luz por esse nosso mundo. Basta a gente se permitir a ouvi-los e deixar que irradiem essa energia positiva sobre nós. São guerreiros com almas doces, que resistem à dor e procuram o bem do próximo.
Sucena Shkrada Resk | 



16/10/2007 20:46
Lá se vão 4 décadas, por Sucena Shkrada Resk 
O Brasil ditatorial, de certa forma, forjou as primeiras manifestações de Organizações Não Governamentais (ONGs) no Brasil. Com a bandeira de resistência à opressão, surgiram nos anos 70, as primeiras entidades com essa proposta democrática. Entre elas, o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), o antigo Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi) e o Instituto de Estudos da Religião (Iser). As recordações ainda são presentes na memória do historiador Maurício Broinizi, que divide a tarefa de acadêmico na PUC-SP e de representante do Movimento Nossa São Paulo.

Durante palestra no curso de extensão em Jornalismo Social, na (Universidade de São Paulo (USP), na última segunda-feira (15), o especialista tratou de alguns aspectos importantes da trajetória do que chamamos hoje de terceiro setor. “As igrejas protestantes (metodista, prebisteriana e anglicana) tiveram um papel significativo neste período. Buscaram constituir novas lideranças contra o processo ditatorial. Representavam um guarda-chuva ecumênico e democrático. A Igreja Católica, com as pastorais operárias, também tiveram uma forte participação neste processo”, diz.

Como pano de fundo, o país passava por um momento de opressão, com o fechamento de sindicatos e qualquer manifestação da massa. “Era emergencial haver novos sujeitos políticos. O próprio universo acadêmico começou a interagir com essas novas organizações sociais”, narra Broinizi.

As manifestações começaram a se difundir de forma espontânea, segundo o historiador. Nessa corrente, vieram os panelaços, a luta pela Anistia, o processo de redemocratização, o Movimento Diretas Já… “O impeachment do Collor foi o ápice do movimento das ONGs, como também a demarcação das terras indígenas, em 88. No meio jornalístico, alguns expoentes, como Cláudio Abramo e Antonio Resk também se destacaram neste período

Nos anos 90, houve uma proliferação de entidades. “Daí surgiu o questionamento sobre a identidade desses movimentos, pois apareceram muitos oportunistas, que serviam como um tampão para destinar recursos públicos e privados”, afirma o historiador. Mas em contrapartida, houve a consolidação de ONGs “sérias”, que se tornaram, em alguns casos, as melhores fontes de pesquisa para retratar a realidade brasileira. “O que se espera dessas instituições são informações qualificadas, porque por muitas vezes, a fonte do Estado é limitada, por causa da fragmentação dos dados”, considera Broinizi.

A sobrevivência das ONGs foi outro ponto discutido pelo professor de História da PUC. Segundo ele, a maioria das instituições recorre a recursos nacionais e internacionais, por meio de programas de cooperação. “São formas transparentes. Em muitas situações, as ONGs acabam assumindo as tarefas que deveriam ser executadas pelo Estado. Entretanto, se não tivessem essa iniciativa, muitas coisas não aconteceriam”, constata.

A atual legislação (de 1999), que criou as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips), contribui para dar mais rigor às constituições das entidades, segundo Broinizi. O historiador lembra que cabe ao Estado fiscalizar, e o próprio legislativo está mais atento, em sua opinião, com a abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) em casos de suspeita de fraude.

Moral da história
Praticamente 40 anos depois, o país ainda necessita de uma sociedade crítica e atuante. “De um lado, tem a presença de ONGs pró-ativas e de outro o desgaste de uma guerra de todos contra todos. Com essa expressão, Broinizi alerta para a fragmentação do conhecido qualificado por motivo de disputas. “Muitas entidades escondem dados com receio de serem utilizados por outras”, diz. 

Sucena Shkrada Resk | 



11/10/2007 23:15
Pach Adams, um exemplo de humanização, por Sucena S. Resk 
Assistir mais de uma vez, o filme Pach Adams – O Amor é Contagioso, é um daqueles momentos em que vale a pena interagir com o enredo, sem precisar cair no piegas. Nesta semana, tive a oportunidade de rever a produção norte-americana, de 1998, que tem como protagonista o ator Robin Williams, e foi impossível não parar e fazer uma reflexão.
Afinal trata-se de uma história verídica de um homem, que na década de 60, após tentar o suicídio e ficar por um período no sanatório voluntariamente, descobre a importância da humanização na área da saúde. Ele leva esse aprendizado no dia-a-dia como estudante de Medicina e contagia, a duras penas, colegas, pacientes e, inclusive, médicos veteranos, que até então não tinham revisto sua maneira de conduzir a carreira. Com isso, derruba aos poucos, preconceitos enraizados nos distanciamentos, que até hoje, são uma chaga que envolve em muitos casos, a área médica.

Com nariz de palhaço ou com o sorriso estampado no rosto, esse homem que foge do “padrão chamado aceitável” se dedica a pacientes debilitados, com um único propósito: fazer com que riam saborosamente e ainda tenham a oportunidade de expressarem seus sonhos e desejos contidos. A ferramenta lúdica e o calor humano servem como um antídoto, nem que seja temporário, para fazer com que essas pessoas esqueçam por alguns momentos a dor. Essa atitude transforma o conceito impregnado de comportamento sisudo e quase matemático adotado até então pela classe médica. E Pach vai mais além. Se for possível, realiza os sonhos dessas pessoas. Representa uma nova leitura do que, de fato, é necessário nessa relação de mão dupla: o respeito e fraternidade.

Quando se forma, leva essa filosofia para o hospital que manterá por muitos anos. E faz escola pelo o mundo afora. Patch Adams , na verdade, simboliza que tudo é possível de ser revisto. De que somente técnica não é suficiente para um profissional, que lida diretamente com pessoas em seus momentos de fragilidade. Enfim, sua história possibilita reflexão. Um momento de parar e redescobrir como é importante deixar as máscaras de lado e impregnar sentimentos em cada ação de nosso trabalho, seja ele qual for.
Sucena Shkrada Resk | 



10/10/2007 20:31
Questionamento sobre política de telemarketing, por Sucena S. Resk 
Os chamados mailings corporativos viraram a coqueluche dos serviços de telemarketing distribuídos pelo Brasil. Sem cerimônias, nossos telefones, celulares e endereços são invadidos por propagandas, propostas de vendas de cartões, financiamentos, e tudo o que se possa pensar. Entretanto, a questão é uma só: nós autorizamos que nossos dados fossem passados para essas empresas? Obviamente, não.

E mais surreal que possa parecer, para exercermos nossos direitos de cidadania, temos de solicitar formalmente que nossos dados sejam tirados dessas listas, para que não sejamos mais importunados com essa forma de marketing massivo. Aí, começamos a acumular números de protocolos de reclamações, e-mails para ouvidorias, ombudsman, serviços de atendimento ao consumidor…

A pergunta que fica no ar é: quem nos defende dessa falta de código de ética dessas empresas que passam nossas informações a terceiros, em troca de moeda corrente? Apesar de termos um código de defesa do consumidor e direitos de privacidade, nada disso vale para esse comércio, principalmente no ramo de serviços e produtos financeiros.

Se acaso receberem uma ligação de um tal tel. 2136-5250, por exemplo, vão descobrir que é de uma financeira, que nem sequer coloca o número na apresentação da sua página, para que quando se ligue para o tal número, não haja resposta. Aliás, outra falta de respeito ao consumidor. Um telefone que aborrece e não recebe reclamações.

Aí, quando entramos na página da internet da tal empresa, tem um link de serviço de ouvidoria, mas que só atende das 10h as 16h, e exige CPF para que façamos a reclamação, como forma obrigatória de enviar a mensagem. Quem garante o sigilo dessa comunicação, já que não há chave de proteção? O disque 0800 repete sucessivamente um jingle, mas nem tudo está perdido, há um e-mail que não exige informações sigilosas. Enfim, a reclamação pode ser enviada. E, ao menos, neste ponto respondem. Só que é necessário esperar para ver se as providências são, de fato, tomadas.

Enfim, pesquisando na internet, tal serviço já é objeto de reclamação de outros usuários. Esse caso ilustra o quanto é necessário nos mobilizarmos contra essa falta de organização no mercado, que não sabe impor os limites ao apelo de vendas.

O mesmo princípio vale para as dezenas de malas diretas também de financeiras, que oferecem ao seu nome (de forma personalizada) – um valor de R$ X de empréstimo, como se tivesse solicitado… Mais uma vez, a falta de ética dessa negociata de dados cadastrais impera e uma mensagem dessas cai como um pára-quedas em sua casa. E assim vai essa rede, que desconstrói o bom serviço esperado da relação entre prestadores de serviços e consumidores
Sucena Shkrada Resk | 



26/09/2007 12:11
De Antígona aos Direitos Humanos, por Sucena Shkrada Resk 
Os primeiros conceitos de direitos humanos surgiram há cerca de 500 anos a.C., no período de Antígona e do seu pai, rei Creonte. Nessa época, os dois irmãos da princesa acabaram matando um ao outro, por causa da disputa pelo Reino. Creonte só quis dar honras de Estado ao seu predileto, relegando o segundo filho ao anonimato. Antígona, por sua vez, enterrou-o para não deixá-lo a mercê dos abutres. Seu principal argumento era que a determinação real ia contra a justiça e à lei de culto aos mortos. O seu pai, por sua vez, matou-a, por violar a sua determinação como chefe de Estado. Esse desfecho revela que as relações pouco mudaram em várias partes do mundo, apesar do peso dos milênios sobre essa narrativa.

“O episódio atesta que nem tudo que é colocado pelo Estado é justo”, diz o diretor executivo da Conectas Direitos Humanos, o advogado Oscar Vilhena Vieira, que ministrou uma palestra sobre o tema, no último dia 24, no curso de Jornalismo Social, na Escola de Comunicação e Arte (ECA/USP).

Segundo o especialista, alguns séculos depois, com o Cristianismo, surge o conceito de justo do direito natural. “O argumento é que um é igual ao outro e todos são filhos de Deus. Isso imprime a idéia de universalidade, que é reforçada com o Novo Testamento”, explica.

Mas com o Renascimento (séculos XV e XVI) e o Iluminismo (XVII e XVIII), os questionamentos sobre esse tipo de pensamento dão lugar a reações, como de Maquiavel. “Ele mata a idéia de Deus e quer dizer que cada um escreve sua própria história. O mesmo acontece com Michelângelo, que ao pintar o dedo de Deus na Capela Cistina, imprime na verdade, a imagem projetada do homem”, analisa Vieira. Leonardo Da Vinci, com a figura do homem no centro do universo, vem nessa mesma corrente.

Os pensadores Hobbes e Locke reforçam o conceito do homem como sujeito. “Na modernidade deixamos de ser objeto do interesse do Estado e da religião e passamos a ser sujeito de nossa própria história. O que nos faz diferentes é o fato de sermos capazes de não agir somente pelo desejo de maximização de nossos interesses, porque temos eventualmente a opção de não fazer. É o livre arbítrio”, afirma o diretor da Conectas.

Assim fica concreto o aspecto da moralidade, de discernir o certo do errado. “Com a Revolução Francesa (séc XVIII) e a Americana (XIX), há a produção de cartas de direitos. Em todos os artigos surgem as palavras todos e ninguém, uma associação à universalização e a não-tolerância a privilégios. Isso exige que haja a obrigação de se respeitar a liberdade de expressão e impõe, por sua vez deveres”, diz Vieira.

O grande divisor de águas é a 2ª Guerra Mundial, com cerca de 45 milhões de pessoas mortas, entre 1937 e 1945. “A maioria é morta pelos próprios Estados. Havia justificativas, de que não eram arianos (Alemanha), por exemplo”. A resposta a esses desmandos ocorre em 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, pela Organização das Nações Unidas (ONU).

“Mas somente a declaração não teria peso, então, foi feito um conjunto de tratados internacionais, uma forma de a comunidade internacional defender os indivíduos contras os próprios Estados”, afirma Vieira. Num primeiro momento, essa decisão foi recebida com frieza, porque havia um temor quanto à quebra das soberanias. Em 1966, surgem os Pactos Internacionais de Direitos Políticos e de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais para dar maior sustentação.

A questão é que cada país tinha de ratificar os tratados, para ser de fato, parte integrante dessa engrenagem. “O Brasil só assina os tratados, com Sarney, em 1985. E o pacto vigora, de fato, no país, a partir de 1991, na fase Collor, quando são aprovados pelo Congresso e ratificados”.

Em 1989, a Queda do Muro de Berlim abre portas para mais adesões. “As ratificações permitem que a comunidade internacional interfira e causam desdobramentos para que as constituições dos países se adaptem. No Brasil, por exemplo, houve essa necessidade quanto à tortura”, exemplifica Vieira.

Mesmo assim, muitos países não concordam com toda a totalidade das determinações dos tratados e assinam os documentos, com ressalvas, como a determinação de prisão perpétua. Esse é o caso do Brasil. Com a criação do Tribunal Penal Internacional de Haia, em 1993, alguns ditadores foram presos, como Slobodan Milosevich (já falecido), da Sérvia.

Um ponto delicado nesse processo é o da fiscalização do sistema internacional. Como dar conta? Na esfera global, foram criadas várias instâncias pela ONU. Já no âmbito regional, pela União Européia (UE), pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Na América do Sul, houve especialmente o Pacto de San José da Costa Rica, em 1969.

O Massacre do Carandiru, por exemplo, refletiu na dificuldade de financiamentos internacionais para a revitalização do Rio Tietê. “O Brasil foi considerado culpado e recorreu à OEA, e com isso, teve de criar a lei contra a tortura. A Lei Maria da Penha, mais recente, contra violência doméstica, foi resultado também de uma condenação internacional”.
“Há dois anos foi criado um Conselho de Direitos Humanos na própria ONU, que possibilita medidas punitivas, como boicotes econômicos”, diz Vieira.

Apesar de todos estes artifícios legais, a linha tênue entre direitos e deveres é quebrada diariamente pelo mundo. Fora guerras, genocídios, há uma agressão silenciosa – a pobreza – essa marca que praticamente faz sumir milhares de pessoas, como no Brasil, que estão abaixo dela, e não são contempladas de uma forma segura pelo direito internacional e, nem pela Constituição Brasileira. A maior prova disso é a própria existência permanente desta situação no país. 

Sucena Shkrada Resk | 



18/09/2007 23:29
Mantas cinzas, por Sucena Shkrada Resk
Uma, duas, três…dez mantas cinzas entrincheiradas como em um front, por pouco, não sinalizam vidas – se não fosse o sobe e desce do ressoar da respiração dos moradores em situação de rua, que estão sob elas. A cena na noite da capital paulista, mais especificamente nas proximidades do Largo São Francisco e na Praça da Sé, são o retrato de uma situação socioeconômica, que a metrópole tenta ocultar no breu da região central.


A queda da temperatura, na faixa dos 15 graus, revela uma situação ainda mais triste, já que o pano de feltro pouco protege do frio. Cobertos até a cabeça, os andarilhos se encolhem para ver se o corpo esquenta. Nessa solidão paradoxalmente conjunta, nem tudo está perdido. Cidadãos voluntários caminham ao encontro dessas pessoas, com sopões ou quentinhas, para tornar a situação menos desoladora.


Quanto tempo será que estão nessa vida errante, sem emprego, moradia, alimentação…Será que um dia tiveram um lar, uma família em que as risadas e choros foram compartilhados? Muitas interrogações. Apesar de não saber seus nomes, eu me senti parte de suas vidas – nem que fosse por poucos minutos.


Da janela do ônibus, registrei essas cenas nesta semana, como um travelling de gravação. Mais um pouco adiante, ainda vi mais três mantas cinzas, do lado de dentro das grades que protegem a apoteótica Catedral da Sé. De repente, de uma delas, apareceu uma pequena cabeça de criança. Lá estava um menino bocejando e “morrendo” de frio. As crianças da Sé. Essa Sé que remonta uma história de décadas de pequenos que se tornaram grandes, outros que não conseguiram crescer e de novos pequenos, que vivem sem a proteção do Estado, da família e da sociedade.


A noite se foi, o dia chegou e as marcas de garrafas vazias, alguns papelões e restos de comidas foram deixados por esses cidadãos, que não estão nos bancos das escolas e nem fazem parte das estatísticas das carteiras de trabalhos assinadas e, nem sequer, do trabalho informal. Brasileiros como nós, mas que têm sobre suas vidas um peso e medida diferenciada numa nação que ostenta a tarja da democracia social.
Sucena Shkrada Resk | 



05/09/2007 23:38
As fronteiras das zonas de conflito, por Sucena Shkrada Resk 
A Faixa de Gaza, com o passar das décadas, passou a ser um muro de diferenças étnicas, religiosas, históricas e culturais entre palestinos e israelenses. E hoje, sem dúvida, é uma das regiões do planeta mais difíceis de se cobrir jornalisticamente. O repórter e produtor palestino Khaled Abu Toameh narrou sua experiência de 24 anos na zona de conflito, nesta terça-feira (5), em evento organizado pelo Comunique-se, em São Paulo. Sua exposição deu uma pequena noção do que é ser um correspondente de guerra.

“Quando se está numa área como a Cisjordânia e Gaza, não dá para acordar de manhã e ir a uma aldeia ou campo de refugiados, falar bom dia e tudo bem. O jornalista precisa de um tradutor que conheça a região. As pessoas lá não confiam em estrangeiros”, conta o repórter do Jerusalém Post e colaborador da BBC, entre outros veículos internacionais.
>br>Toameh, apesar de ser árabe tem cidadania israelense e atua em um jornal judeu, o que pode causar estranheza à primeira vista. Mas ele logo esclarece, que sua decisão se deveu a seu posicionamento contrário à gestão da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), desde Yasser Arafat (que faleceu em 2004) até o atual primeiro-ministro Salam Fayyad .

“Quando eu terminei o Jornalismo, não quis ficar na OLP (por onde teve uma curta experiência), porque seria como trabalhar num jornal do Saddan Hussen, sem auto-crítica e debate aberto. A manchete seria sempre Arafat. Todo jornalista precisa ter a palavra livre e consegui isso ironicamente num jornal judeu e na mídia internacional”, afirma. Para Toameh, não há mídia livre na Palestina, desde a década de 70 e, hoje, o problema evoluiu por causa das dissidências do Hamas e Fatah. “Muitos colegas perderam a própria vida. Arafat ao entrar em 94, mandou perseguir os profissionais contrários ao regime e cerca de 30 foram mortos e perseguidos”, afirma.

De acordo com Toameh, os conflitos também se estendem à imprensa. “Atualmente há três principais veículos de imprensa na Palestina, financiados pela OLP. Já o mundo árabe tem como forte representante a TV Al Jazzera, do Quatar, que é contralada pelos governantes ditatoriais. Eles tentam veicular manchetes com questões sensíveis ao mundo árabe. Mas a alternativa não é animadora, já que a Alcaida e o Osama Bin Laden escolhem a emissora para falar. A TV hoje está proibida em 10 países da região e tem mais liberdade, ironicamente, em dois birôs em Israel”, conta.

O jornalista considera que a gestão política desgastada na Palestina é um dos principais fatores para o atual quadro do conflito e ainda tece crítica ferrenha a supostos desvios de dinheiro, durante esse período. “Cerca de U$ 6,5 bi de ajuda internacional, após o Tratado de Oslo, foram jogados no lixo. O povo não teve acesso a esse dinheiro”, diz.

Os dois períodos da Intifada (revolta popular palestina contra a ocupação israelense), de 67 a 93, e de 2000 até hoje criaram uma desastabilização de grandes proporções, que são vivenciadas diariamente. Mortes, fogo cruzado e emboscadas são uma constante neste território, de acordo com o repórter. Após duas décadas, ele diz “ficar indiferente” a tanta tragédia, para poder suportar o sofrimento e dor. “Tenho empatia pelos judeus e palestinos, me corta o coração ver uma mãe de qualquer um dos lados perder seus filhos. O que não falta é sofrimento humano. Mas temos de ser fortes. É a única forma de trabalhar e sobreviver para contar essas histórias”, afirma Toameh.

Ele diz que é impossível contar o número de situações de risco pelas quais passou. “Na primeira intifada, os palestinos jogavam pedras em nós. Era preciso implorar que não nos matassem. Na atual, viajamos pela Cisjordânia com coletes à prova de bala e em carros blindados”. Toameh enfrenta um embate interno. “No dia em que me sentir ameaçado fisicamente, abrirei uma mercearia, mas escolhi uma profissão em que sabia os riscos envolvidos. Se tiver de pagar um preço, não tenho medo da morte”, diz.

Segundo o jornalista, o único modo de sobreviver nessa zona de conflito é contando a verdade. “Caso contrário, se perde a credibilidade e reputação”, garante.

E uma dessas verdades é que a ajuda humanitária é imprescindível para o povo palestino. “E não dá para entender porque os países árabes não investem nenhum dinheiro lá. Aproximadamente 70% das pessoas que vivem em Gaza está desempregada”, diz o repórter. Mais um desgaste para o povo é a ocupação militar. “Em Israel, hoje existe uma grande maioria da população que não quer controlar a vida dos palestinos. Muitos até falam em dividir Jerusalém”.

Nesse universo geopolítico conturbado, em que há uma sucessão de conflitos de interesses, Toameh alerta que é também preciso evitar generalizações, que geram estereótipos. “O Islã foi sequestrado por uma minoria – Alcaida e Jihad – que distorceram a imagem do mundo árabe. Por outro lado, há os movimentos Fatah e Hamas, na Palestina”, analisa.


Sucena Shkrada Resk | 



31/08/2007 22:32
Os Bastidores da Voz Operária, por Sucena Shkrada Resk 
Dez anos de pesquisa e milhares de horas de dedicação a uma única causa: desvendar o universo da comunicação trabalhista no Brasil. Com esse empenho, um dos fundadores do Núcleo Piratininga de Comunicação – o ex metalúrgico e estudante de Filosofia Vito Giannotti, lançou no último dia 30, o livro “História das Lutas do Trabalhadores no Brasil”, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).


Sem medo de se revelar “anarquista”, e com um jeito irreverente e sem “papas na língua”, o especialista em lutas de classe narra alguns dos momentos marcantes da obra, como a descoberta de que em pleno início do século XX, já havia iniciativas de jornais diários dos trabalhadores, algo que não acontece hoje. Segundo ele, durante um período político contubardo em 1919, o periódico “A Plebe”, de São Paulo, tem uma curta fase de diário até 20 de outubro do mesmo ano, após sua sede ser destruída por radicais e policiais. No mesmo ano, em Recife, A Hora Social é porta-voz dos operários. Essas e outras descobertas recheiam as 311 páginas da publicação, pela Mauad Editora.

“Pesquisei mais de 400 manuscritos e fontes. De 1890 a 1930, houve mais de 500 jornais operários no Brasil. De uma maneira geral, eram politizados, anti-capitalismo e clerical. Também se preocupavam com a cultura”, conta Giannotti. Já de 1922 a 64, houve “uma farta imprensa comunista”, de acordo com o especialista. ” Na fase ditatorial até 1980, foram cerca de 150 títulos sob censura e nos anos 1970 é iniciada a imprensa sindical, mas que não veicula notícias além do interesse de sua categoria”, afirma. De acordo com Giannotti, em pleno século XXI a efervescência de décadas passadas parece ter se acabado. “Hoje a imprensa sindical não sabe para onde ir”, considera.

Nesse vaivém da história, Gianotti analisa cada período no Brasil com o contexto mundial, momentos marcantes de manifestações trabalhistas, tanto nas palavras, como em greves e passeatas, além de sua leitura sobre a percurso político nacional na dicotomia das chamadas correntes de esquerda e direita. Enfim, uma leitura interessante sobre o universo do trabalhador – em sua maioria – do chão de fábrica, geralmente relegado a segundo plano na extensa bibliografia brasileira.
Sucena Shkrada Resk | 



29/08/2007 16:17
Um dos últimos moicanos, por Sucena S Resk 
Num dia desses, em São Caetano do Sul, saí da Biblioteca Municipal, nas proximidades da avenida Goiás, e olhei para o outro lado da rua, onde um homem debruçado sobre uma bancada em uma lojinha, que não deve ter mais do que 3m2, me chamou a atenção. Eu me detive mais atentamente à cena e percebi que era um relojoeiro – entende-se, um profissional que conserta os tradicionais relógios de corda – uma atividade quase extinta na era digital.


A curiosidade me levou até lá, pois vi duas vitrines laterais com peças raras, de onde ressoava o tic tac à base de corda. João Gallo – esse é seu nome – se virou para me atender com um raro pincenê sobre um dos olhos, que estava sendo usado para mais uma investigação minuciosa de uma obra de arte de décadas passadas, que estava sob seu cuidado.


Perguntei a ele, há quanto tempo mantinha seu negócio na cidade. E o sr. Gallo me disse que eram quase 40 anos, sendo que já somava 62 anos de profissão. “Aqui eu só conserto relógio de corda, nem sei mexer com os modelos mais modernos”, frisou com orgulho.

Com mais um pouco de prosa, descobri que em sua árvore genealógica havia fundadores do próprio município no século XIX, como Antônio Gallo. Lá estava eu diante de um senhor de cabelos grisalhos, descendente de colonos que deram início a São Caetano de imigração italiana, que ama seu ofício até hoje. Com isso, um dia aparentemente comum em meu cotidiano ganhou um repertório novo, que pude compartilhar nesta página com vocês…Afinal, me deparei com um dos “últimos moicanos” do século XXI.

Sucena Shkrada Resk | 



29/08/2007 09:20
Movidos à superação, por Sucena Shkrada Resk 
Eles carregam a identidade tribal dos Nandis, do grupo Kalenjin, e representam 2% da população queniana. Seus nomes atravessam continentes e conquistaram o respeito internacional. Paul Tergat, Robert Cheruiyot, Noah Ngeny, Guilbert Okari, Lydia Cheromei, Margareth Karie e Anne Bererwe, entre outros. Sim, estou falando dos atletas quenianos que são o que podemos chamar de exemplo de obstinação da “elite do esporte”. Eles revelam a que vieram nas provas de pedestrianismo e maratonas pelo o mundo a fora, inclusive, na São Silvestre brasileira.

As pernas longilíneas, o corpo fino e esguio e um fôlego de dar inveja revelam horas e horas de treino e objetivos de superação. São um digno exemplo para se quebrar estereótipos geralmente aplicados à população africana, devido ao recorte socioeconômico. É importante ressaltar, que muitos dos problemas enfrentados pelos povos daquele continente são oriundos de décadas de dominação colonizadora…Que rendem mais uma reflexão. No caso do Quênia, é uma ex-colônia britânica, que ficou independente em 1973.

Segundo uma pesquisa dos especialistas Rodrigo Luiz Avancini e Claudio André Barbosa, do Centro de Estudos de Fisiologia do Exercício, a explicação para tanto sucesso obtido pelos quenianos nas corridas de longa distância alia genética privilegiada, treinamento contínuo, e com um detalhe, a uma altitude superior a 2 mil m.


Em reportagem recente exibida pelo Globo Esporte, no centro de treinamento dos atletas, deu para compreender o que move esses cidadãos africanos. A disciplina, o esforço e a vontade de se superar começam desde a infância, quando têm de percorrer distâncias de até 6 km para chegar à escola, já que vivem em uma zona rural. Também suam e adquirem resistência ao ajudar suas famílias nas plantações de chá. E nos treinamentos como atletas, percorrem até 42 km por dia, em relevos acidentados, que variam de 1 mil m a 2,4 mil m de altitude.

Desde a década de 60, os quenianos já conquistaram cerca de 40 medalhas nas principais corridas mundiais. Mas as suas conquistas vão muito além do brilho do ouro ou prata no peito. Essas tribos dão sustentabilidade a gerações futuras. Criaram uma infra-estrutura, que não existe infelizmente na realidade de muitos conterrâneos de seu país.


O case queniano se multiplica em vários lugares do mundo. No Brasil, temos grandes estrelas como Franck Caldeira, Clodoaldo Gomes da Silva, Ronilson dos Santos, Marilson Gomes dos Santos, Lucélia Peres, Maria Zeferina Baldaia…


E um dos exemplos mais marcantes das maratonas é do etíope Tesfaye Jifar, vencedor da São Silvestre de 2001 (entre outras provas mundiais). Ele mostra que nunca é tarde para se começar. À época, com apenas quatro anos no esporte – período curto se comparado aos demais concorrentes -, com humildade chegou ao pódio. Destemido, respeitou os adversários e não se intimidou com os obstáculos da prova e nem com a limitação de um olho cego. Recuperar as notícias da época e ver o sorriso esboçado em seu rosto é realmente um incentivo para qualquer pessoa que pretende se dedicar a um sonho, seja ele no esporte ou em qualquer outro segmento. Foto 1: Etíope Tesfaye Jifar (crédito: site Percorrere) 

Sucena Shkrada Resk | 



28/08/2007 18:42
Reflexão: Um caldeirão de adversidades, por Sucena Shkrada Resk 

 

A situação do Afeganistão, na Ásia Central, volta a preocupar o mundo – entretanto – é necessário entender de que mundo estamos tratando, ocidental ou oriental. E o país carrega um fardo muito grande, que deixa marcas profundas em cerca de 26 milhões de cidadãos.
A diversidade étnica – com 10 grupos de predominância islâmica é uma característica sociohistórica dessa população, que sofre a cisão entre uma parcela predominante de sunitas e minoritária de xiitas. Os conflitos extrapolaram as fronteiras geopolítica e sofrem a intervenção internacional, com tropas militares da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), principalmente após o atentado de 11 de setembro, nos EUA.

Nesse caldeirão de adversidades, a política esfacelada do país é um ponto nevrálgico, com as ações da milícia extremista talibã, que surgiu em 1993. Apesar de ter saído da liderança governamental em 2001, após a intervenção internacional liderada pelos EUA – em represália ao ataque à Torres Gêmeas, em Nova York (creditado a Osama Bin Laden) – ainda apresenta forte ação de guerrilha. Nesses confrontos diários, civis inocentes estão sendo atingidos constantemente pelo conflito.

A região fortemente acidentada, com clima árido, além de ser abalada por acidentes naturais, sofre também com as armas mortais deixadas literalmente pelos homens sob a terra. Estima-se que hoje haja mais de 4 milhões de minas terrestres, um presente indesejado da fase da guerra com a extinta URSS (1978-1989), que já deixou e ainda deixa uma multidão de mutilados e vítimas fatais.

Com esse quadro geopolítico complexo, o êxodo de boa parte da população nos anos 90 foi mais um resultado dessa combinação de fatores. Enfraquecido, o povo afegão subsiste principalmente da agricultura e da pecuária e trava uma luta diária contra minas, seca e a falta do mínimo de infra-estrutura. Faltam água potável, comida, remédio, saúde e educação. As mulheres sofrem uma repressão acirrada em seus direitos mais básicos. E a taxa de analfabetismo é uma das mais altas do mundo. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o analfabetismo predomina nas áreas rurais. Os índices são assustadores e atinge aproximadamente 90% das mulheres e 65% dos homens.

Crianças, adultos e idosos trabalham na lavoura e andam quilômetros para ir às escolas ou encontrar os produtos de primeira necessidade. E, para completar esse quadro de extrema pobreza, o país mantém mais um título indesejável. Tem como uma das principais fontes de recursos, a produção de ópio, que vai resultar no abastecimento do mercado mundial de drogas.

Falar nos direitos cidadãos ao povo afegão deve parecer uma retórica de palanque político. A nossa leitura ocidental com certeza não tem a dimensão das proporções do sofrimento dessa gente. Quando os noticiários exibem as cenas dessa nação fragilizada, com toda a sorte de sofrimento, o que mais impressiona é conhecer histórias de famílias mutiladas, que unidas enfrentam inimigos visíveis e invisíveis.

Sucena Shkrada Resk | 



25/08/2007 21:07
Comunicação e cidadania caminham juntas?, por Sucena S.Resk’ 

Crédito/foto: Sucena S.Resk

 

Os ruídos de comunicação são uma constante na área jornalística e em outras mídias. Não é difícil entender o porquê desse problema, já que se trata de um universo sujeito a erros e diferentes interpretações. Esse foi um dos pontos discutidos, durante o Seminário Comunicação e Trabalho: Pluridisciplinaridade, Interfaces e Mediações, realizado nos últimos dias 23 e 24, pelo Grupo de Trabalho e Comunicação, da Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo (ECA/USP).
A professora de Mestrado da ESPM-SP, Rose de Melo Rocha, coloca em xeque o jargão “uma imagem vale mais que mil palavras”, que quase se transformou em dogma nos dias de hoje. “A função pedagógica do olhar representa a cidadania visual, que é capaz de estimular o exercício de leitura”, diz. A especialista ainda analisa que o poder da imagem iludir ou revelar é uma realidade tangível. E é justamente aí que está a importância do papel do comunicador. Ter responsabilidade ao transmitir a informação…
O ex-presidente da Radiobrás, o jornalista Eugênio Bucci, cita como exemplo a cobertura da Guerra no Iraque pelos EUA. “A primeira vítima da guerra é a verdade. O processo truncado da comunicação pode levar a perdas, mortes e impactos na cidadania”, diz.
Segundo ele, no Brasil acontece a mesma coisa em proporções diferenciadas. “O ideólogo vai cedendo lugar à figura do marqueteiro. Tragédias podem ser evitadas ou causadas pela gestão comunicacional”, considera. Em sua opinião, a informação passa a ter valor de mercadoria na sociedade globalizada. “Em alguns casos, representa o valor do Produto Interno Bruto (PIB) maior do que muitos países”, afirma o jornalista.
Na esfera governamental, Bucci critica a figura do segredo de Estado. “Os poderes públicos precisam se caracterizar pela ação ativa de abrir a informação, do que optar pela retenção, que é a forma mais escolhida”, afirma. E ao voltar à realidade nacional, afirma que não há como mascarar que a pobreza no Brasil produz seres invisíveis. Com isso, essas pessoas raramente são ouvidas. E quando são, por muitas vezes sofrem a estigmatização.
Um alento diante dos ruídos comunicacionais é a capacidade de duvidar do cidadão. Ao exercer esse direito e, porque não, dever, dá um sinal de que ainda há algo positivo no processo. “Esse é um começo ao se olhar a imagem”, diz a professora da ECA/USP, Maria Aparecida Baccega.
Sucena Shkrada Resk | 



16/08/2007 14:25
O valor da ajuda humanitária, por Sucena Shkrada Resk 
O terremoto que atingiu o Peru, de 7,9 graus na escala Richter, na noite do último dia 15, está mobilizando uma rede de ajuda humanitária, que conta com apoio de países vizinhos da América Latina e da Europa, além da Cruz Vermelha e da Organização das Nações Unidas (ONU). Estima-se em levantamento preliminar do Instituto Nacional de Defesa Civil do Peru, que cerca de 400 pessoas estejam mortas e 1,3 mil feridas. O Brasil deve cooperar com o envio de medicamentos e alimentos não-perecíveis, conforme foi anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo a BBC de Londres, o último terremoto com vítimas no país ocorreu em 3 de outubro de 1974. Na época, a intensidade foi de 6,6 graus, e o resultado foi uma saldo de mortos e 2.500 feridos. Mais de três décadas depois, o incidente geográfico ocorre com maior proporção, mas a história revela que há registros de terremotos no país, nos últimos 400 anos, com cerca de 800 mil vítimas fatais.


A soma do esforço desses países supera a simples relação diplomática e as palavras “bonitas” dos governantes, que recheiam as notas oficiais. Quando profissionais e voluntários dessas nações chegam aos locais dos desastres, com sua mão-de-obra ou com o envio de produtos de primeira necessidade, a esperança de um mundo mais humanizado não adormece na dicotomia das guerras e conflitos mundiais. Essas pessoas têm um imenso valor como ser humano, pois com despreendimento, também correm perigo, mas não dão um passo atrás ao se tratar de ajudar o próximo, independente de quem seja.

Nessa atmosfera, não há desentendimentos étnicos, religiosos ou econômicos que sejam maior que a mobilização cidadã frente a um desastre natural dessas proporções.


Na matéria, que li há pouco no Estadão, a necessidade do que hoje chamamos de “corrente do bem” é iminente. Entre as inúmeras necessidades, há o registro do apelo do ministro peruano, para que os cidadãos peruanos doem sangue, porque os hospitais estão lotados. Não tenho dúvidas, que muitas pessoas farão isso. Por outro lado, equipes de resgate se empenham em encontrar mais pessoas com vida nos escombros. Cada segundo é precioso nessa procura.

Para nós, que estamos a km de distância da tragédia, talvez a dor seja menor do que para os familiares das vítimas, que estão vivenciando a angústia de perto. Mas com certeza, a sensibilização é grande. Cada um em seu credo, que acompanha as notícias desse terremoto, está emanando pensamentos de fraternidade para as vítimas e ao pelotão de pessoas que arregaçou as mangas em seu auxílio. Essa é a mínima contribuição que podemos fazer para a população atingida pelo incidente.
Sucena Shkrada Resk | 



13/08/2007 09:58
A inclusão pela música, por Sucena Shkrada Resk

Crédito/foto: Divulgação

 

Por anos a fio, a favela do Heliópolis – que passa por um processo de urbanização – mantém o título de ser a maior de São Paulo, e ainda causa impacto para quem passa pela região do Sacoman, em São Paulo. Na mancha urbana, erguem-se casebres, sobrados de alvenaria agrupados e conjuntos habitacionais, que se misturam no cenário, mostrando a fragilidade socioeconômica que atinge milhares de trabalhadores.

Mas a aparente fragilidade esconde um poder de superação e idealismo de dezenas de jovens, que encontraram na música, a melhor forma de expressar o seu potencial e ultrapassar fronteiras geográficas e da insustentável desigualdade social brasileira.


Os artistas – sim – ARTISTAS com letra maiúscula – são integrantes da Orquestra Sinfônica de Heliópolis. Fruto do projeto lançado em 1996, pelo Instituto Baccarelli (que leva o nome do maestro que originou esse trabalho), com vigor e resistência, se mantém até hoje, por meio de patrocínio da iniciativa privada, facilitado pela Lei de Incentivo Cultural Rouanet.


Andrea, Carla, Edna, Renato…(você pode prestigiar os nomes dos cerca de 80 instrumentistas no site http://www.institutobacarelli.org.br) ganham o mundo em apresentações diversas no país e, inclusive, no exterior. Quando sobem ao palco, liberam sensibilidade e disciplina sob a regência do maestro, e provocam no público aquela grata sensação de reconhecimento.


A harmonia entre violinos, violas, violoncelo e contrabaixo,flautas, oboé, clarinetes, fagotes, trompetes, trompas, trombones, tuba, tímpano e percussão revela porque vale a pena o incentivo a esse exercício de cidadania. O projeto não atinge só os adolescentes, mas toda a família. É um efeito multiplicador. Músicos veteranos dedicam algumas horas de suas agendas para formar essa nova geração. É uma troca de repertório, energia, que cada um guarda dentro de si.


No ano que vem, o projeto cairá na passarela do samba. A Escola de Samba Vai-Vai irá homenagear o projeto em seu enredo. A sinfônica cairá no ritmo do Carnaval…e, quem sabe abrirá mais um instrumento de divulgação para sensibilizar a iniciativa privada e o poder público, a fim de ampliar a experiência em outras comunidades de baixa renda pela Grande São Paulo. Esses brasileiros só precisam do incentivo para florescer as suas habilidades de músicos, poetas e artistas, na selva de pedra. Nós, enquanto sociedade, temos muito a colaborar e ganhar com isso.
Sucena Shkrada Resk | 



12/08/2007 11:15
Ainda existe um bom jornalismo…,por Sucena S. Resk 
Ligar a TV e se deparar como uma boa programação na grade aberta é algo cada vez mais raro, mas felizmente acontece… Neste domingo (dia 12/08) assisti à matéria do repórter Carlos Dorneles e equipe, no Globo Rural, sobre a comunidade quilombola do Sul da Bahia, que na minha opinião, teve o valor de documentário. Apresentou um conteúdo abrangente e rico em informações sobre brasileiros de mais uma região rural esquecida, de certa forma, pelo poder público, que encontram no esforço conjunto, maneiras dignas de subsistência.

A reportagem tratou especificamente de 8 comunidades que vivem na região entre Ituberá e Nilo Peçanha. Os trabalhadores braçais têm como fonte principal de sobrevivência, a colheita e trabalho com a piaçaba, mas abriram um leque de empreendedorismo, quando começaram a agregar outras atividades produtivas.

Os baianos descobriram, por meio da formação de uma cooperativa, uma boa fonte de renda com a criação de uma fábrica de vassouras piaçabas. Outro grupo está se dedicando a criadouros artesanais de tilápias no rio dos Patos. E numa terceira frente, começam a cultivar colméias com as abelhas urussu (que não têm o ferrão, como a africana), para a produção de mel. Tudo isso exige um verdadeiro esforço a várias mãos, para garantir no fim do mês, uma faixa aproximada de um salário mínimo, em muitos casos.

É desses cidadãos brasileiros que ganham honestamente seu dinheiro e não recebem o que constitucionalmente deveriam receber, que estou falando. E o que me chamou mais atenção dentro dessa realidade, foi a parte da reportagem que divulgou a existência de uma Escola de Amor à Terra. Isso mesmo. Nesta seara da educação comunitária, jovens na faixa dos 18 anos aprendem o que a região onde moram tem de riquezas naturais e de cultivo, durante o período de dois anos. A proposta principal é evitar o êxodo desses adolescentes para as cidades grandes – muitas vezes malsucedido-, por meio do estímulo à batalha de um trabalho na terra natal.

Na luta pela sobrevivência, há espaço para o resgate da identidade cultural, que vai se perdendo com o passar das décadas. Jamilton, Gideon, Damiana, Maria…e outras centenas de trabalhadores, crianças e jovens formam um pelotão coeso. Um flagrante disso, pôde ser feito, durante o registro da apresentação de peças do folclore. São a ladainha de reis e a dança das lavadeiras e dos velhinhos (caboclos), entre outras. As cantigas e as danças ritmadas com toques teatrais tomam conta das ruas de terras dos pequenos povoados. O momento é de pura alegria. Homens, mulheres e pequenos quilombolas vestem roupas coloridas de algodão, colocam chapéus e turbantes ou máscaras tribais, e deixam se levar por esses momentos mágicos…

Enfim, uma delícia de se ver e ouvir, que certamente emociona, pois por mais editada que seja a matéria, não deixa de traduzir a regionalidade pura e simples de uma gente de carne-e-osso, que têm muito a nos ensinar – inclusive – um mingau que demora 13 dias para ficar pronto. É o mingau feito por “dona Damiana de Jesus”, com coquinho de piaçaba. Esse quitute, infelizmente, só o Dorneles e seus colegas puderam degustar…Mas quem sabe, um dia, essa iguaria não chega até nós, não é?…
Sucena Shkrada Resk | 



05/08/2007 09:01
A riqueza do algodão colorido, por Sucena Shkrada Resk
Crédito/foto: Sucena S. Resk
 
Campina Grande, na Paraíba, apresenta muito mais riquezas do que a Festa Junina, repercutida mundialmente. Lá, cidadãos brasileiros cultivam o algodão colorido, uma técnica que elimina desperdício e a agressão à natureza. Cooperativas de agricultores florescem nessa nova guinada da tecnologia do agronegócio e têm um acompanhamento atento da Embrapa. Esse tipo de iniciativa, entretanto, não é rotineiro nas manchetes de jornais.

Durante uma oportunidade de trabalho que tive, no ano passado, pelo Sebrae, pude descobrir produtos – como bolsas e calçados – originados dessa matéria-prima, e a existência da Coop Natural. O grupo é formado por agricultores e microempresários, que na sua simplicidade e sabedoria, enxergam longe.

Considero importante registrar a existência dessa comunidade nordestina, como tantas outras, que tem o seu ganha pão baseado em princípios ecologicamente corretos, e semeiam bons exemplos para o país. Para chegar a essas iniciativas enfrentam todo o tipo de dificuldades, mas mesmo assim, seguem em frente, em busca do trabalho digno e sem favorecimentos. 
Sucena Shkrada Resk | 



04/08/2007 08:40
O legado do bordado dos Dumont, por Sucena S. Resk 

Crédito/foto: Sucena S. Resk

 
A família Dumont, do município de Pirapora, MG, leva sua regionalidade Brasil a fora, por meio da tradição do bordado de mais de 50 anos. Sob a batuta da matriarca Antonia Dumont, seus filhos Angela, Demóstenes, Marilu, Marta e Sávia multiplicam a arte, por meio do crivo em telas e nas páginas da literatura infantil.

Para não deixar a tradição morrer, há 5 anos, o Instituto Promoção Cultural Antonia Dumont com apoio da Fundação Banco do Brasil e do Sebrae, entre outras instituições e órgãos, realiza oficinas de 80h, em vários municípios de nove estados brasileiros. Cerca de 8 mil mulheres, dos 14 aos 80 anos, já aprenderam os detalhes da arte do bordado.

“Nós valorizamos as especifidades locais, os valores culturais e a melhoria da qualidade de vida dessas comunidades. Nosso objetivo é atender pessoas de baixa renda e que também estejam em risco social, que queiram formar associações e cooperativas ou já tenham constituído um grupo de trabalho”, conta Savia Dumont, uma das coordenadoras do projeto (na foto, durante Mostra Sistema Fiesp de Responsabilidade Social, no Ibirapuera).

Segundo a artista, a família Dumont acredita que a transformação social passa pela arte. “Queremos transmitir de que maneira essa mulheres podem encontrar na delicadeza, uma maneira de trabalhar e gerar renda”, diz.

O público infantil também não é esquecido pelos mineiros de Pirapora, que revelam mais uma faceta de sua arte, em 19 livros, em parceria com grandes nomes da literatura nacional, ora na ilustração com bordado, ora na expressão das letras. Com isso, semeiam um terreno fértil para que outros brasileiros descubram e exerçam sua criatividade.
Sucena Shkrada Resk | 



04/08/2007 07:31
Os pneus no contorno da arte, por Sucena Shkrada Resk
Crédito/foto: Sucena S.Resk
 
O que têm em comum o ex-ajudante de pedreiro Marcelo Ferreira de França e os estudantes Dimas Volpato e Érica Souza, de São Paulo? Os três integram a Organização Não-Governamental (ONG) Arte em Pneus, na qual transformam as circunferências de borrachas em pufs artesanais, objetos de decoração, carros e aviões de brinquedos. Com isso, contribuem para deixar a cidade menos poluída.

Os jovens artesãos aprenderam a arte com o designer Daniel Beato, 30 anos, que em 2001 descobriu que a matéria-prima do pneu poderia se transformar em artefato, gerando renda e contribuindo para a preservação do meio ambiente.

“Um dia eu perguntei para um borracheiro, o que fazia com os pneus que trocava. E ele me disse que acabavam descartados na rua. Então, comecei a recolhê-los depois que fiz um trabalho na faculdade sobre reaproveitamento de materiais. Sabia que poderia dar uma outra destinação”, conta Beato.

E a expansão de seu projeto aconteceu em 2003, quando apresentou suas peças no Mercado Mundo Mix e um empresário sugeriu a ele que agregasse valor com um projeto de conscientização ambiental. “Acabei me tornando ecologista. Lixo só é lixo se não é usado direito. Agora, aos poucos, estamos nos transformando em consultores de resíduos sólidos”, diz.

Para França, que há quase dois anos, trocou as pás de pedreiro pelo novo ofício, a recente profissão deu uma perspectiva positiva a ele, sua esposa e filho. Olha com orgulho os caminhões e pequenos aviões que foram produzidos por suas mãos. “Eu quero que esse projeto cresça ainda mais”, afirma, enquanto mostra as peças em um estande da Mostra Sistema Fiesp de Responsabilidade Social, no Pavilhão da Bienal, no Ibirapuera.


Dimas Volpato confessa que o aprendizado da arte em pneus une o útil ao agradável. “Adoro ser multiplicador”, diz o estudante, que faz uma jornada dupla no terceiro setor, ao participar como educador em uma outra ONG – Mestres da Obra, que ensina pessoas de baixa renda a trabalhar com material reciclado na construção civil.


E os sonhos desses trabalhadores começam a se transformar em realidade. A possibilidade de expansão da Arte em Pneu nasceu com um convite da Reciclanip, que mantém mais de 200 dos chamados ecopontos no país (para reciclagem de pneus), e propôs que a ONG seja multiplicadora em outros estados. “O primeiro local que eles deverão ir, ainda em agosto, é Teresina, PI, adianta o representante da empresa, Álvaro Greenhalgh de Oliveira.
obs: foto da esquerda para a direita (Daniel, Érica, Marcelo e Dimas)
Sucena Shkrada Resk | 



04/08/2007 06:53
A arte de reciclar tomou conta da sua vida, por Sucena S.Resk
Crédito/foto: Sucena S. Resk
 
A paulista Joana Albino da Silva, 44 anos, se rendeu à arte de confeccionar bolsas, pufs, porta-papéis com PETs e transmite seu ofício a pessoas que passam por albergues públicos ou estão em situação de rua. Ela integra a CoopArte, na região de Pinheiros, na Capital, que se dedica a um projeto de geração de renda e inclusão social a jovens filhos de catadores de sucata e cidadãos que estejam em risco social.

“Há cerca de 10 anos fiquei desempregada e meu colega Anderson, que fazia reciclagem, me convidou para triar o material na Coopamari. Esse meu lado artista nasceu sem querer nessa época, porque uma educadora pediu a minha ajuda para fazer uma encomenda de quase 500 peças. Aprendi na marra e não quis parar mais”, narra a artesã.

O seu sustento veio através da arte. “Agora quem pode ensinar sou eu. Isso é gratificante. Mesmo que eu consiga fazer a faculdade de Educação Física, um sonho que tenho para o futuro, nunca vou parar com esse trabalho”, afirma Joana, que conseguiu concluir o primeiro grau e pretende retornar à sala de aula.

Sucena Shkrada Resk | 



02/08/2007 09:10
Idealistas à prova do tempo – Parte 2, por Sucena S.Resk
Crédito/foto: Sucena S. Resk
 
O produtor cultural Wolney Porto, 57 anos, é mais um Dom Quixote da Seresta em Conservatória, RJ. Desde 2000, ele se dedica à empreitada de manter os Museus Vicente Celestino e de Sílvio Caldas/Nelson Gonçalves/Gilberto Alves e Guilherme de Brito, sem contar com apoio efetivo do poder público e da iniciativa privada. Com um ingresso de R$ 1,00 e a venda de CDs, além de recursos próprios, e a ajuda de amigos como Ricarddo Pontes, 50, ele dá continuidade ao seu ideal de preservar o registro histórico de ícones da seresta brasileira.

Até quando terá fôlego para essa jornada praticamente solitária é um ponto de interrogação. Trabalhos como este deveriam ser olhados com maior atenção pelas autoridades, pelos meios acadêmicos e, inclusive, no campo da iniciativa privada. Afinal, o incentivo cultural está aí e este é um bom exemplo de um projeto com as cores nacionais.
Sucena Shkrada Resk | 



31/07/2007 16:32
Idealistas à prova do tempo-Parte 1, por Sucena S. Resk
Crédito/foto: Sucena S. Resk
 
Quem diz que os idealistas são de uma raça extinta, certamente não conhece alguns personagens ímpares do distrito de Conservatória, no RJ. Entre eles, Joubert Cortines de Freitas, 86 anos, um dos fundadores do Museu da Seresta e Serenata, que há praticamente 50 anos preserva a tradição das trovas e romantismo, por meio de registros históricos no passar das décadas e da memória oral. O professor de matemática aposentado e seresteiro junto com o seu irmão José Borges de Freitas Netto (já falecido) perseguiram por anos a fio a meta de não deixar morrer uma das principais peças do cancioneiro popular brasileiro.

Com um sorriso e simplicidade de quem não gosta de se enaltecer, Joubert fala desse projeto a quatro mãos, com orgulho, e transmite resistência a modismos e influências comerciais.
Os cabelos brancos e uma memória impecável, para quem já sofreu uma leve isquemia, revela um jovem dentro de uma armadura madura.

Mas o momento que mais se sente à vontade é quando dedilha o seu violão e entoa canções tradicionais acompanhado por outros menestréis, noite a dentro. Nesse momento, se sente em casa e se deixa levar pela melodia….

Sucena Shkrada Resk |

30/07/2007 15:04
Os dom quixotes da Seresta Brasileira, por Sucena S. Resk 
Conservatória, em Valença, no Rio de Janeiro, é um daqueles lugares em que o tempo parece ter parado para não se perder na falta de memória da história nacional. No minúsculo distrito, com seus casarios centenários, personagens idealistas em uma teimosia serena – num bom trocadilho – ajudam a perpetuar a tradição da Seresta Brasileira.

Joubert Cortines de Freitas, Marlene Borges (viúva do falecido José Borges de Freitas Netto), Wolney Porto, Marluce Reis Magno, Elenice Mendes Lessa e muitos outros anônimos reavivam as trovas em cantatas ao violão, fotos manchadas pelo tempo, velhas bolachas de ícones, como Vicente Celestino, Silvio Caldas…

Enfim, com esses personagens pretendo dar início a um trabalho mais contínuo de retratar a importância de pessoas que contribuem de forma positiva para a história do Brasil
Sucena Shkrada Resk |



11/07/2006 22:50
Brasileiros sem meias palavras, por Sucena S. Resk 
Um dia desses, em viagem de trabalho pelo Sebrae, ao minúsculo estado de Sergipe, me deparei com um grupo de brasileiras no povoado de Patu, que encontram na arte da confecção de roupas, a dignidade para superar a adversidade da pobreza do semi-árido. Debruçadas sobre máquinas de costura, fazem camisas e blusas, e deixam do lado de fora o paradoxo de uma região, em que a água é um bem precioso trazido em baldes no lombo de burros. Essa imagem não sai de minha mente, quando me entristeço por algo que me aborrece no cotidiano urbano. Eu me questiono se, de fato, tenho um problema

A resposta é quase que imediata. Mais uma vez, as lembranças vêm carregadas com as cores da realidade. Afinal, a palavra desânimo não faz parte do vocabulário dessas trabalhadoras, que olham com uma ponta de orgulho a sede de sua cooperativa erguida por meio de uma batalha diária. E nada mais justo que esse orgulho. São responsáveis por boa parte do sustento de suas famílias, predominantemente de agricultores, que degladeiam constantemente com um inimigo poderoso – a estiagem.

Daí chego à seguinte conclusão. Aqui está um exemplo de brasilidade, sem afetações ou com data marcada, como vivemos durante o período da Copa do Mundo. Essas pessoas de carne e osso não seguram bandeiras ou vestem a camisa com a estampa do Brasil. Elas simplesmente são o Brasil, sem meias palavras.
Sucena Shkrada Resk |

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